Etimologicamente falando, idiota é quem vive no seu próprio mundo. Porém, com a internet, os mundos colidiram e eles se agruparam. Para sobreviver em tempos de pós-verdade, aprenda como lidar com idiotas sem ser um idiota.
Ao topar escrever este texto que você está lendo agora, eu não sabia que iria encontrar dificuldades para tentar desbravar o assunto.
Diante de uma tela em branco e os dedos travados, refleti sobre a situação por horas e depois cheguei à conclusão que eu estava evitando falar sobre pessoas idiotas. Afinal, só o ato de pensar em babacas já me fazia revirar os olhos e ter vontade de correr para as colinas.
Porém, se existe algo abundante nesse mundo e que não é possível evitar, por mais que você tente, são as pessoas idiotas. Elas estão em todos os lugares. Na família, no trabalho, na fila do pão, no trânsito, em cargos públicos, na vizinhança. Arrisco dizer que todos nós conhecemos um imbecil.
Então, o jeito é aprender a conviver com esse fenômeno enigmático da sociedade — e evitar fazer parte dele.
O que é ser um idiota?
O dicionário define a palavra idiota como uma pessoa que carece de inteligência e discernimento, que é tola, ignorante e estúpida. Mas é na sua etimologia que encontramos um significado mais interessante.
Para os gregos, um idiota era um sujeito afastado da vida pública, que vivia no seu próprio mundo. Idios (ἴδιος) tem o sentido de “o mesmo”, de onde vem o idiōtēs (ἰδιώτης), que significa “cidadão privado, individual”.
Hoje, o senso comum reforça o termo criado pelos gregos, mas com uma carga muito mais pejorativa, é claro. Segundo o psicólogo clínico recifense, Ronnie Petterson Soares da Silva, idiotas realmente vivem em seu próprio mundo:
“Geralmente, o idiota é uma pessoa muito individualista e imatura, que acha que o mundo gira ao seu redor, que não tem noção da realidade e acha que sabe de tudo”, explica.
O que os gregos não contavam é que, em tempos de pós-verdade e com o advento da internet, esses idiotas se agruparam e estão proliferando suas visões alienadas e realidades paralelas.
O que você precisa saber para lidar com gente idiota
O primeiro passo para você aprender a lidar com um idiota, sem se tornar um, é assumir que você não é expert em tudo. Isso evita que você seja uma vítima do efeito Dunning-Kruger. O fenômeno revela que quanto mais ignorante uma pessoa é, mais ela tende a supervalorizar suas aptidões sociais e intelectuais – mesmo inexistentes.
Ele mostra que, enquanto especialistas de uma área ainda se questionam sobre o seu conhecimento, a vítima do efeito acha que sabe o suficiente e molda um tema a partir de suas experiências e percepções anedóticas, ou seja, pessoais.
O efeito Dunning-Kruger está no seu tio “espertalhão” que compartilha fake news no grupo de WhatsApp, dizendo que o nazismo foi um movimento de esquerda ou que a vacina cause autismo, ou mesmo que ela tenha um chip embutido. Todas essas notícias já foram desmentidas dezenas de vezes por diversos sites de checagem, vale dizer.
Ele também pode ser reflexo no estudo do instituto Ipsos Mori, que aponta o Brasil como o 2º país com pior noção da realidade, principalmente em assuntos como criminalidade e saúde.
Provavelmente pela trágica construção histórica dessa nação, envolvida até o pescoço com a lógica do colonialismo predatório, prática na qual um território exerce domínio político, cultural ou religioso sobre um determinado povo, definitivamente somos um país abarrotado de idiotas, no sentido etimológico da palavra.
Sabendo disso, precisamos trabalhar nossa consciência, empatia e paciência. Veja a seguir o passo a passo para lidar com idiotas sem ser um idiota.
1. Mantenha ao seu lado pessoas de bom senso (e honestas)
Além de se informar por vias confiáveis e ter a humildade em reconhecer que você não sabe de tudo, outra dica importante é estar perto de pessoas de bom senso.
“Pessoas idiotas andam em bando e procuram se relacionar com gente que pensa exatamente como elas. Por isso, procure se relacionar com pessoas que lhe digam a verdade e não somente o que você está querendo ouvir”, observa Ronnie.
Afinal, ninguém está livre de ser idiota em algum momento da vida. Mas estar aberto a receber críticas, opiniões diferentes e feedbacks construtivos é uma maneira de não se tornar um idiota de carteirinha.
2. Não revide os idiotas (não na mesma intensidade)
Ao menor sinal de interação com um idiota, a nossa primeira reação costuma ser revidar, trocar xingamentos e, muitas vezes, agir também como um babaca. Isso acontece muito no trânsito, por exemplo. Portanto, respire fundo e não caia nessa armadilha.
“A respiração consciente nos dá alguns segundos para não reagir”, explica Ronnie.
O Almanaque SOS, inclusive, já publicou diversos artigos ensinando técnicas de respiração para manter o equilíbrio:
- Para relaxar rapidamente, basta seguir essa técnica de respiração;
- 4-16-8: A técnica de respiração “Nadi Shodan Pranayama” que te acalma em poucos minutos;
- Técnicas simples de respiração podem curar diversas doenças, segundo a ciência;
- Meditação Mindfulness: técnica da respiração.
3. Saiba se distanciar estratégicamente (quando possível)
A psicóloga Camila Polese de Oliveira diz também: entender que o mundo e as pessoas, felizmente ou infelizmente, não são nossos clones é uma estratégia para lidar com idiotas.
“Parece intolerável que alguém pense e aja diferente da gente, principalmente em uma época de tantas bolhas sociais e polarização. Revidar pode ser um ataque e uma defesa legítima, mas não costuma ser uma comunicação efetiva para mudar algo”, frisa.
Inclusive, segundo a Teoria dos Espelhos, só conseguimos enxergar nos outros características que existam ou já existiram em nossa personalidade. Portanto, vale trabalhar a empatia e refletir se aquela atitude não vibra dentro de você também.
4. Prepare os ouvidos (e a sua paciência)
A dica a seguir pode ser bem difícil: ofereça seu par de orelhas ao idiota.
Não tem como fugir da palavra empatia, mas desenvolva a escuta empática, que parte do princípio de apenas escutar a ideia da pessoa sem a pressa de refutá-la e sem a carga de julgamentos. Ouça, mas ouça de verdade. Muitas vezes o idiota só quer um pouco de atenção.
É complicado, sei disso. Um estudo feito por cientistas do Canadá e dos EUA já mostrou que as pessoas preferem perder grana a escutar opiniões ideológicas diferentes das delas. Mas Ronnie e Camila recomendam a estratégia da escuta empática para tentar compreender o outro e evitar conflitos.
5. Faça como Jaiminho e evite a fadiga (se afaste de vez)
Provavelmente todos nós já tentamos mudar um idiota para aliviar o planeta de mais esse peso. É uma missão quase impossível, porque essas pessoas acreditam em suas próprias teorias e visões sobre o mundo e não vão mudar.
Diante dessas situações, se pergunte se vale a pena gastar sua energia com alguém que não suporta ouvir qualquer argumentação que destoe de suas crenças pessoais.
Além disso, se é possível se livrar de um idiota, comece esfriando a relação, como sugere o professor da Universidade de Stanford, Robert Sutton. Ele se dedicou a publicar livros de como sobreviver aos babacas, principalmente no trabalho.
“Tem quem não tolera ser confrontado, mas também tem aqueles que buscam o confronto em qualquer tipo de relação. Se afastar também pode ser um caminho legítimo em alguns casos”, orienta Camila.
Como você viu, lidar com um idiota não é uma tarefa muito simples.
Eles são muitos, como Nelson Rodrigues dizia. Mas ainda é possível sobreviver a eles e evitar, sobretudo, a produção de mais idiotices.