Como garantir que a amizade não morra apesar da falta de tempo?
Um dia, perambulando pelo Facebook, encontrei esse maravilhoso vídeo do TED na timeline de uma amiga. Robert Waldinger é psiquiatra e diretor de um extenso estudo sobre os fatores que reforçam a felicidade e satisfação em nossas vidas.
São 12 minutos de simplicidade, afeto e inspiração. Nenhuma receita mágica, nenhuma descoberta incrível. Assista e encante-se!
Por aquelas coincidências que não sabemos explicar, tropecei nesse post do Medium, assinado por Nir Eyal, sobre o mesmo tema, no mesmo dia. Ah, um sinal, só pode ser (ou o algoritmo do Google trabalhando super bem! 🙂 Daí esse post feliz!
Boa leitura e desculpe os erros da livre tradução.
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Quando minha esposa e eu nos mudamos para Nova York, recém-formados e casados, estávamos ansiosos para conhecer novos amigos. Tínhamos certeza que iríamos encontrar um grupo legal com os de Seinfeld e Friends.
Para isso traçamos um plano: convidar todos os vizinhos, para uma cerveja em nosso apartamento, colocando convites impressos em suas caixas dos correios. Aí ficamos esperando as nossas versões de Chandler, Kramer e Elaine aparecerem. Mas não rolou, ninguém apareceu.
Em 100 apartamentos? Zero. Que decepção…
Recordando esse episódio, vejo como fomos ingênuos. Não percebemos que as amizades do mundo real não têm nada a ver com as que vemos na TV. Porém, nosso desejo de pertencer a uma comunidade estava longe de ser tolo!
Estudos recentes mostram que a falta de interação social com pessoas que você gosta e que se preocupam com você, não só leva à solidão, mas também a uma série de efeitos físicos nocivos.
Em outras palavras: a falta de amizade pode ser perigosa para a sua saúde.
Um estudo de 2010, envolvendo mais de 300 mil participantes, concluiu que fracos laços sociais são tão prejudiciais como o alcoolismo e duas vezes piores que a obesidade. Julianne Holt-Lunstad, co-autora do projeto, disse à Reuters:
“A falta de relações sociais equivale a fumarmos até 15 cigarros por dia.”
Um estudo mais recente, publicado na revista Proceedings, encontrou uma resposta biológica à solidão. Segundo os pesquisadores, o isolamento social desencadeia uma reação que aumenta a inflamação das células e suprime a resposta imunológica do corpo.
Talvez a evidência mais convincente que as amizades afetam a longevidade vem do estudo de Harvard em curso do desenvolvimento adulto. Desde 1938, os investigadores acompanham 724 homens, desde sua condição física, bem como hábitos sociais. Robert Waldinger, atual diretor do estudo, disse em recente TED Talk:
“A mensagem mais clara deste estudo é a seguinte: boas relações nos mantêm felizes e saudáveis. As pessoas socialmente desconectados são menos felizes, sua energia declina no início da meia-idade, seu funcionamento do cérebro declina mais cedo e vivem vidas mais curtas do que as pessoas que não estão sós”.
Atenção, não estamos falando de 500 amigos no Facebook! Waldinger adverte:
“Não é apenas o número de amigos que você tem… é a qualidade de seus relacionamentos íntimos que importa.”
Então, o que faz uma amizade de qualidade?
William Rawlins, professor de comunicações interpessoais na Universidade de Ohio, que estuda a forma como as pessoas interagem ao longo de suas vidas, disse ao The Atlantic que as amizades que satisfazem precisam de três coisas:
“Alguém com quem conversar, com quem contar e com quem desfrutar.”
Encontrar alguém para conversar, contar e desfrutar é fácil e natural quando somos jovens. À medida que caminhamos para a idade adulta, o modelo torna-se mais penoso.
Os melhores amigos tomam outros caminhos e se distanciam. A espontaneidade diminui e encontros só com planejamento. Depois que as crianças entram em cena então… Amizades morrem de fome se não as alimentamos. Ao permitir que isso aconteça, maltratamos também nosso organismo.
Se o alimento para a amizade é o tempo compartilhado, como garantir que ninguém passe fome?
Meus amigos e eu criamos uma forma de nos mantermos por perto. Ele se encaixa em nosso estilo de vida, apesar de agendas lotadas e um excesso de crianças. Nós o chamamos de “kibbutz” (“reunião” em hebraico).
Funciona assim: quatro casais se reúnem, a cada duas semanas, para falar sobre assuntos variados. A questão pode ser profunda como “Conte uma coisa que seus pais lhe ensinaram e que você quer passar para seus filhos?” ou mais leve como “Como você se desconecta do iPhone nos fins de semana?”
Ter um tópico ajuda muito! Passamos batidos pela superficialidade de falar somente sobre esportes ou tempo e nos ajuda a pensar sobre coisas que realmente importam. Em segundo lugar, impede a divisão de gênero que acontece quando os casais se reúnem em grupos: homens em um canto, mulheres em outro.
A cada duas semanas, faça chuva ou faça sol, o kibutz está em nossos calendários. Encontramo-nos sempre no mesmo lugar e cada casal traz a sua própria comida, por isso não há preparo ou limpeza.
E as crianças? No nosso grupo, as crianças são bem-vindas, mas elas não fazem parte do show principal. Normalmente divertem-se por conta própria e são orientadas a não atrapalharem o encontro. Nós não queremos que elas precisem da TV para descobrirem como os adultos interagem.
Ao nos assistir, nossos filhos verão o que é ser bom amigo: ouvir o que os outros têm para compartilhar e não se distrair com qualquer outra coisa como celulares, futebol ou até mesmo eles próprios.
Os encontros duram cerca de duas horas e eu sempre deixo o kibbutz com novas ideias e insights. Mais importante, me sinto mais perto de meus amigos e invisto na minha saúde.
Reunir pessoas queridas em torno de uma mesa e brindar a nossa amizade tem mais efeito que dietas ou treinos.
Amigos, família, gente faz muito bem! Deixe a agenda corrida de lado e tente você também!
Os personagens desse post são muito especiais e fazem a vida das Pereiras mais feliz. Por causa deles teremos muito mais anos de vida, com toda certeza. Viva o amor e a amizade! <3
– Texto e imagens por Daniela Pereira – Apezinho