Combinação segura de drogas: conheça a tabela para redução de danos
Não há espaço para hipocrisia. Se você usa drogas, álcool incluso, é importante saber quais combinações são fatalmente perigosas e quais são inofensivas. Precisamos falar sobre redução de danos.
TripSit é um organização formada por voluntários com objetivo de promover a prática mais segura do consumo de drogas de qualquer tipo por meio de apoio e informações gratuitas, no contexto de técnicas de redução de danos.
Sem hipocrisia e atentos a realidade, eles oferecem diversos serviços que buscam garantir meios para uma prática mais segura e “saudável” de consumo de drogas e atividades recreativas.
O projeto organizou uma tabela que ajuda entender como fazer combinações seguras de drogas, buscando reduzir danos causados pelo consumo. Mas antes de falar sobre isso, precisamos compreender o que significa o termo e em qual cenário esta técnica se desenvolveu.
O que é “Redução de Danos” para drogas?
As intervenções de redução de danos para drogas são baseadas num forte compromisso com a saúde pública e os direitos humanos.
De acordo com a Associação Internacional de Redução de Danos (IHRA), é um conjunto de políticas e práticas cujo objetivo é reduzir os danos associados ao uso de drogas psicoativas em pessoas que não podem ou não querem parar de usar drogas.
Por definição, redução de danos foca na prevenção aos danos, ao invés da prevenção do uso de drogas.
A prática é um complemento de técnicas que buscam reduzir o consumo de drogas como um todo. A ideia parte do princípio de que muitas pessoas pelo mundo seguem usando drogas apesar dos esforços empreendidos para prevenir o início ou o uso contínuo do consumo de drogas.
Redução de danos aceita o fato de que muitas pessoas não conseguem (ou não querem) parar de usar entorpecentes.
Apesar do tratamento adequado ser importante para pessoas que têm problemas com o consumo excessivo de drogas, a maior parte da população não tem acesso ou não consegue parar de usar. É partindo desses pontos que surgem essas práticas, para minimizar os possíveis riscos.
Guia para Combinação Segura de Drogas
Para a técnica efetiva de redução de danos, é necessário que responsáveis por elaboração de políticas públicas, comunidades, pesquisadores, redutores de danos e pessoas que usam drogas devam estar certos sobre o seguintes pontos:
- Quais são os riscos específicos e consequências associadas com o uso de cada tipo de droga?
- O que causa estes riscos e as possíveis consequências?
- O que pode ser feito para reduzir estes riscos e consequências?
As práticas tem o compromisso de basear suas políticas e práticas na mais forte evidência científica existente. A tabela abaixo, foi desenvolvida pela equipe do TripSit.
A organização ressalta que mesmo tendo sido realizada grande pesquisa científica para sua elaboração, a tabela é uma ferramenta de referência rápida e recomenda que o usuário faça suas pesquisas adicionais.
Além disso, a TripSit alerta que criou o material com objetivos educacionais e não incentiva nenhuma das combinações de drogas. A tabela foi desenvolvida para garantir que os usuários reduzam danos durante o consumo.
Veja a tabela em tamanho completo aqui.
A tradução foi realizada pela esquipe do Almanaque SOS. Acesse a tabela original.
A tabela possui seis categorizações:
- Baixo risco e sinergia – Esses medicamentos atuam juntos para causar um efeito maior do que a soma de suas partes e não é provável que causem uma reação adversa ou indesejável quando usados com cuidado. Pesquisas adicionais sempre devem ser feitas antes de combinar drogas.
- Baixo risco e sem sinergia – Os efeitos são apenas aditivos. É improvável que a combinação cause qualquer reação adversa ou indesejável além daquelas que normalmente seriam esperadas com esses medicamentos.
- Baixo risco e redução – Os efeitos são substrativos. É improvável que a combinação cause qualquer reação adversa ou indesejável além daquelas que normalmente seriam esperadas com esses medicamentos.
- Cuidado – Essas combinações geralmente não são fisicamente prejudiciais, mas podem produzir efeitos indesejáveis, como desconforto físico ou super estimulação. O uso extremo pode causar problemas de saúde física. Os efeitos sinérgicos podem ser imprevisíveis. Deve-se ter cuidado ao escolher usar essa combinação.
- Inseguro – Há risco considerável de dano físico ao tomar essas combinações, elas devem ser evitadas sempre que possível.
- Perigosas – Essas combinações são consideradas extremamente prejudiciais e sempre devem ser evitadas. As reações a essas drogas combinadas são altamente imprevisíveis e podem causar a morte.
Mais informações no site oficial.
Vale lembrar que já publicamos uma tabela sobre as consequências do uso de álcool com alguns medicamentos:
Consumo de drogas no Brasil
Segundo o Terceiro Levantamento Domiciliar (2018) da Fiocruz, a droga mais utilizada pelos brasileiros é o álcool, 66,4% das pessoas bebeu ao menos uma vez na vida.
Consumiu ao menos 1 vez na vida
- Álcool: 66,4%
- Tabaco: 33,5%
- Qualquer droga (não-alcoólica): 9,9%
- Maconha, haxixe e skank: 7,7%
- Cocaína: 3,1%
- Solventes: 2,8%
- Crack: 0,9%
Fez uso no último ano
- Álcool: 43,1%
- Tabaco: 17,3%
- Qualquer droga (não-alcoólica): 3,2%
- Maconha, haxixe e skank: 2,5%
- Cocaína: 0,9%
- Solventes: 0,2%
- Crack: 0,3%
Consumiu nos últimos 30 dias
- Álcool: 30,1%
- Tabaco: 13,6%
- Qualquer droga (não-alcoólica): 1,7%
- Maconha, haxixe e skank: 1,5%
- Analgésicos opiáceos: 0,6%
- Benzodiazepínicos: 0,4%
- Cocaína: 0,3%
- Solventes: 0,1%
- Crack: 0,1%
Vale dizer que medicamentos não prescritos por profissionais da saúde correspondem à terceira droga lícita mais usada no Brasil.
Entre todos, os medicamentos ansiolíticos e hipnóticos (benzodiazepínicos) são os mais consumidos no país. Quase 6 milhões de brasileiros assumiram ter feito uso irregular da substância em algum momento da vida.
- Opiáceos, dor aguda ou crônica: 4,4 milhões
- Anfetamínicos, emagrecimento: 2,1 milhões
- Barbitúricos, induz a inibição do sistema nervoso central: 765 mil
- Anticolinérgicos, ativa o sistema parassimpático: 542 mil
- Anabolizantes, repõe a testosterona: 229 mil.
Falar de consumo de drogas também envolve falar sobre saúde pública e riscos.
Segundo um levantamento publicado na Scielo, no Brasil, de 2005 a 2015, ocorreram 457.308 internações devido ao uso de drogas. As principais drogas de abuso foram o álcool e o tabaco, seguido de sedativos e hipnóticos.
Política de sucesso: o caso Portugal
Um exemplo de implementação de uma política de redução de danos foi o sistema implantado em Portugal. O governo do país deixou de lidar com o consumo de drogas como uma questão de segurança e passou a tratar com uma questão de saúde pública.
A medida começou a ganhar forma depois de Portugal passar por uma epidemia de dependência em heroína na década de 1990, que prejudicou muitas famílias. Cerca de 1% da população, que representava 100 mil pessoas.
Em 2000, criou-se o projeto de lei que previa os princípios básicos de o dependente ter o mesmo direito de outros cidadãos; e de que se não der para parar o consumo, deve-se reduzir os danos para ele, sua família e a comunidade.
Hoje, os índices mostram diminuição no consumo de outras drogas, sendo que atulamente metade da população usuária de heroína faz tratamento público.
O vídeo abaixo, produzido pela TV Folha, mostra como funciona a experiência portuguesa no processo de reduzir riscos e minimizar danos com as pessoas dependentes de drogas.
Associação Internacional de Redução de Danos (IHRA), TripSit, Guia para combinação segura de drogas | Medium, Folha de S. Paulo, Grupo Recanto