ClubHouse grava suas conversas e coleta mais dados do que imagina
Se você entrou na onda e também ficou encantado com o novo aplicativo ClubHouse, é melhor refletir um pouco mais. Na era dos dados, a empresa transformou você e todos os seus contatos em um produto valioso.
O ClubHouse se tornou relativamente popular e caiu no gosto dos brasileiros (com iPhone) no início de 2021. A rede social baseada em chat por voz é uma nova forma de manter as pessoas conectadas, em tempos de pandemia. Seja para o trabalho ou lazer.
A plataforma tem atraído cada vez mais usuários, incluindo celebridades e influenciadores. Por enquanto, a rede social está disponível apenas para dispositivos iOS. Para ingressar, atualmente é necessário um convite de um usuário que já seja membro.
Mas para convidá-lo, a pessoa deve dar acesso aos contatos. Em outras palavras, sem acesso, não há convite. E essa situação acendeu um alerta em relação à privacidade do usuário, bem como aos usos desses dados.
O colunista de tecnologia, Jason Aten publicou um artigo para o site Tech Inc. no qual enfatiza que a rede social apresenta políticas nada favoráveis ao usuário, porque, segundo ele, não há informações claras sobre como a empresa usa os dados. Seguem as informações abaixo:
O ClubHouse grava o seu áudio
A rede social tem como característica ser efêmera, ou seja, para participar das reuniões em áudio, é preciso estar ao vivo, sem a possibilidade de pausar ou ouvir mais tarde. É diferente dos podcasts, que são áudios gravados e podem ser ouvidos a qualquer momento. Nem conversas podem ser gravadas no ClubHouse.
Contudo, o aplicativo registra tudo o que você diz. De acordo com a política de privacidade, as conversas são registradas com o intuito de evitar incidentes:
“Se um usuário relatar uma violação de confiança e segurança durante uma sala ativa, retemos o áudio para fins de investigação do incidente. Em seguida, o excluímos quando a investigação for concluída. E caso nenhum incidente for relatado em uma sala, excluímos a gravação de áudio temporária quando ela termina.”
Isso significa que, se alguém relatar um problema, tudo o que aconteceu na sala será registrado e salvo. Contudo, o ClubHouse não é claro sobre o que acontece com essa gravação, exceto ao dizer que é salvo para permitir que a empresa tome uma decisão. Mas não diz quem pode ouvi-lo ou em que condições, segundo Jason Aten.
Você não pode excluir informações compartilhadas
Outro detalhe é que o ClubHouse capta números de telefones por meio de bancos de dados dos usuários. Ou seja, mesmo quem não fez uma conta, mas tem algum conhecido que fez, certamente está com o número registrado no aplicativo.
Isso porque não há a opção de compartilhar os convites apenas com dados escolhidos pelo usuário. É preciso carregar os dados de todos os contatos. E isso vale não apenas para os números registrados na lista de telefone, como também para todos os detalhes salvos ali, como as redes sociais.
De acordo com Clubhouse, quando o usuário cria sua conta e faz a autenticação com perfil do Twitter, por exemplo, há a coleta, armazenagem e atualização periódica das informações associadas a essa conta, como suas listas de amigos ou seguidores.
E mesmo que a pessoa não tenha nenhum interesse no ClubHouse, não existe um mecanismo para excluir qualquer informação pessoal sobre você. Seja ela coletada por um número de telefone ou por outras redes sociais, como Twitter ou Instagram, alerta o artigo.
Você não pode deletar sua conta
Outra denúncia feita pelo colunista é que a única forma de excluir sua conta do ClubHouse é enviando um e-mail para uma conta de suporte. Ou seja, o usuário não tem a opção de fazer isso por conta própria.
Portanto, se não quiser mais que sua conta no ClubHouse fique ativa, você deve enviar um e-mail para “[email protected]” e solicitar o cancelamento de sua conta. E assim, aguardar que alguém tome essa atitude por você.
Compartilha suas informações pessoais sem notificá-lo
Ao analisar a política de privacidade do ClubHouse, fica claro que provavelmente alguma forma de publicidade ou patrocínio estão envolvidos. E para isso, há um trecho informando que o aplicativo “pode compartilhar dados pessoais com nossos afiliados atuais e futuros”.
E na mesma seção conta que o ClubHouse “pode compartilhar as categorias de dados pessoais descritas acima sem aviso prévio para você”. Isso significa que você não tem o direito de saber que suas informações pessoais foram coletadas pelo app.
O Clubhouse rastreia você
Outro trecho da política de privacidade afirma que usa cookies, pixels e tecnologias de rastreamento para monitorar o que você faz no Clubhouse e em toda a web. Mas, por enquanto não há monetização para o aplicativo.
E também há o monitoramento de tráfego do usuário, com ferramentas de rastreamento e análise de atividades para entender o que você está fazendo com o aplicativo.
A política de privacidade da empresa também diz explicitamente:
“Podemos compartilhar dados de identificação e dados de atividade na Internet com plataformas de mídia social e outros parceiros de publicidade, que usarão essas informações para fornecer a você anúncios direcionados em plataformas de mídia social e outros sites de terceiros”.
Ou seja, esse compartilhamento pode ser considerado uma “venda” de dados pessoais. E isso fica mais claro quando percebe-se que o Clubhouse está se preparando para monetizar a plataforma que está construindo.
Para o Jason Aten, essa é uma ação justa, afinal, toda empresa deve ter um plano para ganhar dinheiro. Contudo, se esse plano inclui monetizar a atividade e os dados de seus usuários, ele deve ser aberto e transparente sobre esse fato, finalizou.