Laboratórios quase nunca são tão grandes e equipados quanto o de Dexter no desenho animado. Cientistas nem sempre passam madrugadas em claro trabalhando em algum experimento excêntrico.
A verdade é que eles são gente como a gente e às vezes não têm ideia do que estão fazendo – de forma responsável, claro, para que no fim dê tudo certo.
Prova disso é o show de sinceridade que eles dão no Twitter. A hashtag #OverlyHonestMethods (“métodos excessivamente honestos”, em português) começou a circular em 2013 – invenção do neurofarmacologista @dr_leigh, que não tem mais conta no site, mas deixou o meme como herança.
“Nós fizemos o experimento número 2 porque não sabíamos o que fazer com o resultado do experimento número 1”.
Ele escreveu no primeiro post. E continuou:
“A incubação durou três dias porque esse foi o tempo pelo qual o estudante esqueceu o experimento na geladeira.”
O cientista contou em entrevista que fez as primeiras revelações por brincadeira e não esperava que fizessem sucesso. Ele se surpreendeu quando os colegas também começaram a se abrir, como essa galera:
[espacamento-de-seguranca]
My experiment involved 3 bees today, because that is the number I could collect before they got real pissed off #overlyhonestmethods pic.twitter.com/7asPcNFjRv
— Brittany Berdy (@bmb22) 15 de agosto de 2017
[espacamento-de-seguranca]
“Meu experimento envolveu 3 abelhas hoje, porque esse é o número que eu pude coletar antes de elas ficarem realmente chateadas”
Invertebrates in soil were processed through a sieve, except those capable of flight, which were chased around the lab #overlyhonestmethods
— Christine Chapman (@christinemariex) 3 de agosto de 2017
[espacamento-de-seguranca]
“Invertebrados no solo foram processados através de uma peneira, exceto aqueles capazes de voar, que foram perseguidos no laboratório”
Statistical methods were selected based on a drunken argument at a conference #overlyhonestmethods
— Tam (@onehalfpanda) 19 de julho de 2017
[espacamento-de-seguranca]
“Métodos estatísticos foram selecionados com base em um argumento bêbado numa conferência”
Honestidade demais queima o filme?
Leigh acredita que não se fala abertamente sobre bastidores porque a comunidade científica não gosta de admitir que muitos resultados são obtidos por acaso. “Tenho esperança que este olhar sobre a vida de laboratório faça com que a ciência pareça mais humana”, contou.
Ao contrário dos colegas “tradicionais”, ele acha que dizer umas verdades pode fortalecer a credibilidade dos pesquisadores: “Faríamos bem em reconhecer que parte do melhor da ciência não é o que prevemos quando elaboramos os planos experimentais.”
Sampling intervals were determined by the length of the TV episodes we happened to be streaming at the time. #overlyhonestmethods
— Sara (@SaraJMetz) 7 de junho de 2017
[espacamento-de-seguranca]
“Os intervalos da amostragem foram determinados pela duração dos episódios TV que aconteceu de estarmos assistindo no momento”
This field site was chosen because its the researcher’s hometown so it was easy to get friends to be participants. #overlyhonestmethods
— Ari Janoff (@arianna0607) 1 de maio de 2017
[espacamento-de-seguranca]
“Essa região foi escolhido porque é cidade natal do pesquisador então foi fácil conseguir amigos para serem participantes”
Sample 3 was initially dried at room temperature overnight because I forgot which day I booked the oven. #overlyhonestmethods
— Ole Håvik Bjørkedal (@BjorkOle) 6 de abril de 2017
[espacamento-de-seguranca]
“Amostra 3 inicialmente foi seca à temperatura ambiente durante a noite porque eu esqueci para qual dia eu reservei o forno”
Pipet each sample 6 times to mix? NOBODY HAS TIME FOR THAT YOU GET THREE. #science #overlyhonestmethods
— evannn (@surprisefries) 28 de março de 2017
[espacamento-de-seguranca]
“Pipetar cada amostra 6 vezes para misturar? NINGUÉM TEM TEMPO PARA ISSO, FAÇA TRÊS”
Treatments left for 2 hours because originally, when left for 24 hours someone knocked them over and I was discouraged #overlyhonestmethods
— Emily (@sea_en_emily) 20 de março de 2017
[espacamento-de-seguranca]
“Tratamentos separados por 2 horas porque originalmente, quando separados por 24 horas, alguém os derrubou e eu fiquei desanimada”
Outras história hilárias também foram divulgadas pela doutora em física, Elika Takimoto, em seu perfil no Facebook. Como ela mesmo brinca, “se você quer saber como funciona a ciência, essa postagem pode te dar uma luz“:
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“Dois dias para isolar a proteína, cinco semanas para pensar em um hilário nome de duplo sentido para o gene.”
@drugmonkeyblog
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“Nós usamos jargão em vez de inglês simples para provar que uma década de pós-graduação e pós-doutorado nos tornou espertos.”
@eperlste
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“Queríamos saber o que aconteceria se fizéssemos X, só pela diversão. Grande explosão! Nós criamos a hipótese depois.”
@BoraZ
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“As fatias foram deixadas em um banho de formol por mais de 48 horas, porque eu as coloquei ali na sexta-feira e me recuso a trabalhar nos finais de semana.”
@aechase
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“As amostras foram preparadas por nossos colegas do MIT. Nós assumimos que não havia nenhuma contaminação porque, bem… eles são do MIT.”
@paulcoxon
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“Nós não lemos metade das pesquisas que citamos porque elas estão atrás de um paywall (sistema de assinatura de algumas publicações científicas).”
@devillesylvain
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“Deveríamos ter feito mais experimentos, mas nosso financiamento acabou e publicamos o estudo mesmo assim.”
@ScientistMags
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“As amostras de sangue foram giradas a apenas 1.500 rotações por minuto porque a centrífuga fazia barulhos assustadores a velocidades maiores.”
@benosaka
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“Nós decidimos dividir o papel de autor principal do estudo porque essa é uma decisão menos sanguinária do que duelar.”
@eperlste
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“Nós não demos a referência para determinada informação porque ela vem de uma pesquisa de nossos arquirrivais.”
@AkshatRathi
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“Eu usei estudantes como objetos de pesquisa porque os ratos são caros e costumamos ficar muito ligados a eles.”
@oprfserious
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“Os cérebros foram removidos e dissecados, em média, em 58 segundos. Sabemos disso com essa precisão por causa de uma competição em nosso laboratório.”
@SciTriGrrl
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“Não sabemos como os resultados foram obtidos. O aluno de pós-doutorado que fez todo o trabalho abandonou os estudos para abrir uma padaria.”
@MrEpid
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“Não posso enviar os dados originais porque não me lembro o que significam os nomes dos meus arquivos no Excel.”
@mangoedwards
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“Os locais onde colhemos amostras coincidiram com resorts tropicais porque o trabalho de campo não precisa ser somente lama e agonia.”
@Myrmecos
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“Os dados usados estão velhos porque, no tempo entre escrever o trabalho e fazer a revisão, eu tive um filho.”
@researchremix
Será que os pesquisadores brasileiros também têm algo para contar? Fica a dica para quem quiser investir na hashtag #MétodosMuitoHonestos.