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Bukowski: A loucura de escrever para não enlouquecer

13 de novembro de 2013
Postado por Roberto Amado

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Todo escritor tem um pouco de Bukowski — e não só os escritores. Vai me dizer que você nunca trocou aquela mulher chata, com quem você acabou de transar, por um bom uísque, nunca caiu na sarjeta disposto a encerrar um capítulo da vida, nunca desejou dar um pé no rabo do seu chefe e nunca praticou um sarcasmo impiedoso contra o mundo mesquinho?

Charles Bukowski foi um escritor alemão, radicado nos Estados Unidos, que morreu em 1994, publicou poemas, contos e, principalmente, romances que faziam os puritanos, os caretas e os legalistas ficarem de cabelo em pé.  Sim, ele escrevia sobre sexo, bebedeiras, vida perdida nas noites mais vadias, mulheres mais vadias perdidas na noite.

BukowskiMuitos consideram Bukowski como uma expressão extemporânea do movimento literário beatnik, que aconteceu na década de 1950 reunindo os autores mais “fora da casinha” da época: gays, drogados, maníacos e revoltados  — e brilhantes. Mas Bukowski apareceu tempos depois, revigorando a velha chama do hedonismo, como um cachorro vira-lata pulguento cheio de sabedoria. Seus escritos são, sim, tão obscenos como um velho tarado onanista, tão sábios como uma velho onanista tarado, tão cheios de vida como um tarado velho onanista. Escreve de maneira encantadora, coloquial, envolvendo o leitor naquele seu mundo pervertido, embriagado, mal-amado e inquieto e — e quando você termina de ler, parece que ficou 11 dias sem tomar banho.

A sua obra é extensa como foram suas bebedeiras. E não há dúvida de que refletem diretamente o estilo de vida do autor. “Cartas na Rua”, foi o primeiro livro a ser editado no Brasil e tem uma levada light: é a história de um carteiro e suas desventuras na rua. Outros vieram de enxurrada sempre pela editora LPM e consagraram  sua literatura com bafo alcoólico também pelas bandas daqui. Cheque só essa pérola de sabedoria romântica-sexual:

“Mulheres: gostava das cores de suas roupas; do jeito delas andarem; da crueldade de certas caras. Vez por outra, via um rosto de beleza quase pura, total e completamente feminina. Elas levavam vantagem sobre a gente: planejavam melhor as coisas, eram mais organizadas. Enquanto os homens viam futebol, tomavam cerveja ou jogavam boliche, elas, as mulheres, pensavam na gente, concentradas, estudiosas, decididas: a nos aceitar, a nos descartar, a nos trocar, a nos matar ou simplesmente a nos abandonar. No fim das contas, pouco importava; seja lá o que decidissem, a gente acabava mesmo na solidão e na loucura.”

Sim, Bukowski eternizou a solidão e a loucura do homem violentado pela paixão por um rosto inocente, belo e feminino cuja crueldade só podia ser aplacada pelo álcool, se possível  fazendo um glut-glut na garrafa, estirado numa calçada imunda de Los Angeles, atravessando o caminhos das putas, veados e travestis  com quem irmanava suas angústias. ” Life is a shit and then you die”.

Bukowski2Só mesmo ele pôde descrever uma mulher trepando com um macaco com um surpreende olhar afetuoso . Ou descrever uma cena romântica entre um homem e uma mulher em que o clímax é um peido triunfal.  Ou, ainda, fazer da vida dilacerada de um ser execrado uma obra genial.

“Encontrei-me com Pete e Selma. Selma estava esplêndida. O que se pode fazer para arranjar uma Selma? Os cães acabam sempre com cães. Ela era bela e pertencia a um homem, a um professor da faculdade. Não era muito justo. Os sedutores bem educados. A educação era o novo deus, e os homens educados os novos senhores do mundo”.

Era assim que ele lançava um olhar distante a esse mundo, feito de pessoas limpas, educadas, belas, bem sucedidas, enquanto ele exorcizava sua exclusão com palavras que não mediam sarcasmos e dor. Pobre e perdulário, bêbado e lúcido, inquieto e sereno — pleno de contradições, mas sobretudo intenso: “Você pode ser um porco, mas tem que ter estilo”, dizia ele, com um cigarro apagado na boca e barba por fazer. E assim ele levou uma literatura crítica e sem pudor e outros que se danem.

Essas palavras que escrevo me protegem da completa loucura. Não sou eu o autor desta frase. É ele mesmo.

 

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