Aromaterapia: é possível tratar o corpo e a mente apenas com o olfato?
É possível mudar o nosso corpo, mentalmente e fisicamente, somente através de cheiros. Essa é a promessa da aromaterapia, um tratamento que vem ganhando cada vez mais adeptos ao redor do mundo, como uma forma menos invasiva na prevenção a até tratamento de doenças.
Problemas de pele, depressão, ansiedade, luto, decepções, menopausa, problemas hormonais, cognitivos e de memória, apatia, auto-conhecimento, entre outras coisas, podem ser tratadas por meio da aromaterapia e dos óleos. Vale dizer que a aromaterapia não exclui a necessidade de consultar um médico – e seguir suas recomendações.
Ainda que esse tipo de terapia tenha surgido no século XX, na França, por meio dos estudos de René-Maurice Gatefossé – autor do livro Aromathérapie – a utilização de aromas para fins medicinais é mais antiga. Não é nenhuma novidade. Há registros da utilização dessas técnicas na Índia, Egito e China.
O poder transformador dos aromas
Pense na sensação que dá ao sentir o cheiro de café quentinho pela manhã, ou de uma boa pizza no fim da tarde, depois do expediente. O que sentimos ao sentir determinados aromas, sejam bons ou ruins, são capazes de mudar nosso humor e despertar sensações diferentes em nosso corpo. E essa é a base da aromaterapia.
Nesse tipo de terapia, essas sensações são despertadas através de óleos essenciais.
De acordo com a Organização Internacional de Padronização (ISO), tais óleos são componentes químicos extraídos de plantas por meio de prensagem a frio ou destilação a vapor. Porém, na aromaterapia, os métodos para a obtenção do que pode ser considerado o “suprassumo” das plantas, pode se dar por outros meios.
“Apesar dessa definição do ISO, dentro da aromaterapia, também chamamos de óleos essenciais outros produtos extraídos das plantas. Por exemplo, por meio da enfloração, pétalas de flores são colocadas dentro de uma gordura e, depois, diluídas no álcool, obtendo um óleo essencial. Há também outras formas de extração, como a hidrodestilação, extração por CO2 ou solventes, entre outros”, explica a aromaterapeuta Cyntia Dutra.
A psicóloga Michelle Teixeira explica um pouco como esses óleos agem em nosso cérebro:
“Os óleos essenciais são muito voláteis (evaporam rápido, tem rápida absorção), e isso, através das sinapses que ocorrem no nariz, trazem calmaria e outras sensações de bem estar ao sistema nervoso central”.
Como funciona a aromaterapia?
Bem diferente do difusor de aroma caseiro, com vários modelos disponíveis no mercado, o tratamento de males por meio da aromaterapia é feito levando em conta a individualidade de cada paciente; o paciente deve gostar do cheiro do óleo!
Primeiro é necessário descobrir o que precisa ser tratado, e as contraindicações, baseados em medicamentos que o mesmo possa estar tomando, doenças crônicas, alergias, faixa etária ou casos de gravidez. Esse cuidado é tomado pois os óleos essenciais são ativos altamente concentrados, podendo causar reações.
Após esse primeiro contato com o cliente, o aromaterapeuta realiza o teste olfativo com os seus clientes, apresentando os óleos específicos para cada sintoma ou doença. Um dos principais pontos nesse processo é que o óleo seja agradável ao olfato do paciente.
Exemplificando, em uma conversa entre um aromaterapeuta e seu cliente, é descoberto que vai ser trabalhado questões relacionadas à memória. Ainda que para esses casos o óleo de alecrim seja um dos mais recomendados, se o paciente não se sentir confortável com o aroma, é buscado outras essências.
Os meio de aplicação e absorção pelo corpo variam de acordo com a necessidade do paciente. Para dores, infecções entre outros, é indicado a utilização do óleo em massagens na área. Já a inalação é recomendada em casos que estejam ligados as emoções e formas de pensar, pois assim, o óleo segue diretamente para o sistema límbico, estimulando o neocórtex, a parte do cérebro que pensa de forma racional, diretamente ligado as emoções.
É importante dizer que não é recomendado a aplicação dos óleos em seu estado bruto. Deve-se utilizar algum outro óleo, que realiza o papel de difusor da essência, a fim de evitar alergias ou reações inesperadas pelo contato com o óleo, que são super concentrados.
Cyntia ressalta que é preciso ter atenção com o tipo de óleo carreador usado para diluir o óleo essencial, pois a sinergia pode interferir no resultado final:
“É importante diluir os óleos essenciais em óleos vegetais. Eu não recomendo utilizar óleos minerais ou cremes comuns. Sempre indico algo mais natural, por que a maioria desses produtos industrializados contém componentes químicos que dificultam a absorção do óleo essencial pela pele”.
Psicoaromaterapia e o tal “poder de cura”
A psicoaromaterapia, como o próprio nome sugere, é uma vertente da aromaterapia que trabalha, unicamente, com os males da mente. O principio é o mesmo utilizado no tratamento de doenças físicas.
A utilização dos óleos essenciais, no entanto, é baseada no sistema límbico, responsável pelas emoções e comportamento, baseado em como essas essências trabalham, focadas no problema apresentado pelo paciente.
Porém, é preciso lembrar que a psicoaromaterapia é uma terapia auxiliar, ou seja, não substitui terapias tradicionais; as complementam.
“Para tratar doenças graves, eu não recomendo utilizar apenas a aromaterapia. É preciso ter um acompanhamento médico ou psicológico, dependendo do mal que a pessoa está sofrendo”, pontua Cyntia Dutra.
Michelle Teixeira concorda:
“[Ansiedade ou depressão] são diagnósticos sérios, que podem comprometer seriamente o paciente, e precisam de profissionais capacitados para o tratamento”.
Ciência ou charlatanismo?
Nos últimos anos o crescimento do comércio de óleos essenciais aumentou, assim como o uso indiscriminado. A aromaterapia é mais que um tratamento alternativo, é uma ciência. O profissional da área precisa de estudos aprofundados sobre o assunto para aplicar o tratamento em seus pacientes.
Para Cyntia, um pouco desse preconceito é gerado por grandes marcas de óleos que vêm ganhando força no mercado:
“Já vi em alguns meios alguma resistência em relação à aromaterapia, e isso ocorre por ignorância, preconceito ou desconhecimento sobre o tema. Algumas empresas de óleos essenciais que vêm crescendo no mercado brasileiro focam muito em lucro, fazendo uso de marketing multinível. A aromaterapia é uma ciência, é preciso estudar muito para saber como usar, conhecer o cliente para recomendar a forma mais adequada de utilização e conhecer as contra-indicações.
É preciso ter muito cuidado com o uso indiscriminado de óleos essenciais. Dentro da aromaterapia, menos é mais, ou seja, você deve utilizar a dose mínima para atingir o efeito que está buscando. O uso abusivo pode acarretar em riscos de intoxicação, alergias ou sensibilizações”.
A prova de que a aromaterapia realmente funciona pode ser observada em diversos estudos, como os efeitos do óleo de lavanda em mulheres idosas ou na menopausa, o óleo de tangerina no tratamento de ansiedade ou o poder do óleo essencial de camomila de aumentar efeitos de antidepressivos em pacientes resistentes ao tratamento.
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