Vivemos em um mundo em transformação caótica. Seja de forma acelerada ou não. Desde aplicativos de mobilidade urbana que transformaram as cidades em poucos anos, até a luta pelos direitos LGBT+, dura e lentamente conquistados.
Apesar disso, tem quem se perca em meio a tanta mudança. Foi o caso do motorista Fredson, que trabalhava para o aplicativo 99.
A denuncia feita na quarta feira (13) pelo Yuri, na sua conta no Twitter, deixa claro que os avanços tecnológicos realmente não estão acompanhando os avanços da sociedade:
É assim que vocês querem seus usuários sejam tratados @voude99? pic.twitter.com/9Rw3vpZk1V
— Yuri ✨ (@MarginalFenty) 13 de março de 2019
Em Manaus, um motorista disse que não iria fazer o trajeto com o jovem caso ele fosse “viado”, pois “não curte fazer corrida” para LGBTs. Vale dizer que apesar da denúncia pública ter sido feita na quarta (13), o caso aconteceu segunda feira (11).
Rapidamente, centenas de usuários da rede social cobraram um posicionamento imediato da empresa, como foi o caso do youtuber e ativista Pedro HMC:
Opa @voude99, vamos expor… o motorista será descredenciado do serviço quando?? Ja foi!? https://t.co/AUH7RDsleI
— Pedro HMC (@hmcpedro) 14 de março de 2019
Só após 15 horas a empresa se manifestou, com dois tweets. Um deles, de forma mais genérica, falando sobre segurança no trajeto – o que Yuri não fez.
Saiba que, independente da gravidade da situação, em caso de emergência em alguma corrida você pode reportar através da nossa Central de Segurança pelo telefone 0800-888-8999. A ligação é gratuita e funciona 24h. Ficamos inteiramente à disposição.
— 99 (@voude99) 14 de março de 2019
A 99 disse que “em caso de emergência” o jovem deveria ligar para o telefone da Central de Segurança. Já no outro tweet, explicou que tomariam as medidas necessárias, mas sem explicar quais:
Esse tipo de atitude vai contra todos os nossos valores e ideais e não é admissível dentro da nossa plataforma. A nossa Central de Segurança já está ciente e tomando as medidas necessárias. +
— 99 (@voude99) 14 de março de 2019
Ao SOS, a assessoria da 99 disse que o motorista foi imediatamente suspenso do aplicativo. Também explicou que não são eles que conduzem a comunicação nas redes sociais; deu entender que a demora e a forma confusa de se manifestar se deva a isto.
“A 99 informa que recebeu do passageiro a grave denúncia envolvendo um motorista da plataforma. De acordo com ele, o caso ocorreu na madrugada de segunda-feira, dia 11 de março, em Manaus (AM).
O perfil do condutor foi imediatamente bloqueado do aplicativo.
A 99 repudia qualquer forma de preconceito e tem uma política de tolerância zero em relação a isso.
A empresa se solidariza com o passageiro e lamenta profundamente. A companhia está em contato com ele para prestar todo o apoio que for necessário. Também se encontra aberta a colaborar com a polícia.
A 99 informa ainda que está trabalhando 24 horas por dia, 7 dias por semana, para colaborar com a segurança dos usuários e usuárias.”
De quem é a culpa? Estamos seguros?
Com falta de regulação sobre as mais diversas aplicações tecnológicas que surgem a cada dia, a responsabilidade nem sempre cai sobre as empresas que comandam tais aplicativos.
Seja para um motorista homofóbico de app, que sem leis e vínculos trabalhistas, se vê livre para fazer o que quiser, até um influenciador digital que divulga produtos de forma irresponsável, pois não existe nenhum critério legal sobre o assunto, tudo depende do entendimento do juiz.
Exemplificando, teve caso no Rio de Janeiro em que o aplicativo foi inocentado de responsabilidade, e no Rio Grande do Sul já teve caso que responsabilizou o app de transporte.
As leis e a sociedade simplesmente não conseguem acompanhar o ritmo do progresso tecnológico. Prova de que a evolução social anda em marcha lenta em relação a tecnologia é que, em pleno 2019, ainda estamos debatendo direitos básicos de LGBTs.
Precisamos nos equilibrar.