Após tragédia, Canadá ensinou ao mundo a melhor forma de combater o mal
Diante de tantas tragédias, como o assassinato da vereadora e ativista Marielle Franco ou até mesmo a situação de guerra na Síria, muitas vezes somos influenciados a “combater” o mal com o próprio mal.
É a mídia sensacionalista que divulga informações erradas, o Governo e a polícia que atribui a culpa apenas à determinados grupos, pensamentos como “ela morreu porque defendia bandido”, “bandido bom é bandido morto!“, “são todos terroristas, joga uma bomba lá e acaba com tudo“, se alastram mais rapidamente que a própria notícia.
Mas a maneira como reagimos a essas calamidades poderia ser diferentes se aprendêssemos uma importante lição dos canadenses.
Não é de hoje que o Canadá é visto como um país extremamente cordial e educado. O modo como sua sociedade vive e se relaciona é tão distante da realidade dos estadunidenses, brasileiros e diversos outros povos do mundo, que até virou motivo de piada.
O fato é que em uma cultura onde não há muito respeito entre as pessoas e a falta de empatia domina, pode até ser que pedir desculpas ao esbarrar nas pessoas soe tão surreal que beire a comédia.
Porém, apesar de tanta cordialidade, recentemente o país sofreu uma de suas maiores tragédias: um estudante de 25 anos alugou uma van e atropelou vários pedestres que circulavam pelas ruas da cidade de Toronto, matando cerca de 10 pessoas e ferindo mais de 14.
O crime foi um grande choque para toda sociedade canadense, já acostumada com a pacífica manta que parecia encobrir o país. Porém, apesar do inesperado, a reação da população, da mídia, do Governo e da polícia local foi diferente de tudo o que já vimos nesses casos.
Quando esse tipo de crime acontece em outros países, como aqui no Brasil ou nos Estados Unidos, rapidamente, antes mesmo de uma investigação da polícia, já podemos ver na imprensa reportagens que anunciam o motivo do crime, como foi planejado, de quem é a culpa, etc.
Diante desses fatos, muitas vezes sensacionalistas, o baque de uma grande tragédia também vem acompanhado de um grande sentimento de revolta. A policia precisa de um culpado, a população pede justiça, e assim, diante do furor do momento, surgem os gritos de ódio e todos aqueles pensamentos preconceituosos.
Já no Canadá a tragédia foi recebida com disciplina e reserva.
Os políticos não culparam seus opositores, nem acusaram a tragédia como um ato terrorista. A mídia foi extremamente cuidadosa com os fatos e não fez suposições. A população canadense se manteve serene, e não culpou a imigração pelo ocorrido. A polícia foi extremamente disciplinada; não chegou atirando no suspeito, por mais que estivesse armado.
Como dito em um artigo da CNN, “em vez de histeria, acusação e raiva, havia tristeza e simpatia. Nenhum xenófobo pedindo mais vigilância ou limites à liberdade. Foi um exercício extraordinário de contenção – uma resposta particularmente canadense.”
O jovem suspeito foi preso, interrogado e aguarda julgamento.
No episódio de hoje aprendemos…
Assim como fez o Canadá, será que não seria muito mais vantajoso e com muito menos sequelas sociais, lidarmos com nossos problemas de maneira empática, com respeito, cuidado e responsabilidade?
Quando somos induzidos a reagirmos o mal com uma dosagem ainda maior desse mesmo “veneno”, mesmo que inconscientemente, estamos acionando um gatilho de posicionamentos, conclusões, deduções e possíveis soluções enraizadas de preconceitos, ódio e destruição. Isso nos deixa cego, impossibilitados de ver a real situação.
Recentemente a página ““Quebrando o Tabu” publicou alguns vídeos mostrando o comportamento exemplar dos canadenses. Um deles mostrando a reação dos policiais de lá em comparação com os do Brasil e outro onde um político canadense trajando um turbante foi atacado com ofensas racistas durante um evento.
A autora das ofensas provavelmente acredita que muitos problemas do mundo são de responsabilidade dos que seguem o islã – fato frequentemente divulgado pela grande mídia, que costumeiramente associa atos terroristas exclusivamente à cultura islâmica.
O mais curioso disso tudo é que o político em questão nem muçulmano era. Em contrapartida, ele respondeu às palavras agressivas da mesma forma que Canadá respondeu à recente tragédia, com muito amor e empatia. Que bela lição.