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Aos 27 Anos: Os Fracassos Extraordinários

31 de julho de 2013
Postado por Dario

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A má fama dos 27 anos é que todos estão observando os passos que damos. Algum passo em falso é um insulto a um suposto iminente sucesso, que vai macular a nossa entrada para a fase adulta.

Amy Winehouse morreu aos 27 anos, juntando-se à trupe dos que morreram com a mesma idade – por exemplo, Jim Morrison, Janis Joplin, Jimi Hendrix, Brian Jones e Kurt Cobain. Uma circunstância que a mídia aproveita para santificá-los, salientando toda uma suposta mística que envolve a morte prematura de celebridades da música nesta precisa idade. Mas aponto aqui o verdadeiro problema dos 27 anos: a vida, não a morte. E este problema atinge não somente celebridades da música, mas todos os outros mortais.

Porque a vida aos 27 não é fácil. O problema é que ali residem as mais infaustas circunstâncias do final da juventude e começo da vida adulta. É a ponte na qual muitos de nós insistimos em olhar para baixo e arredar. Segundo alguns psicólogos, é uma das fases mais difíceis da vida.

Claro que teremos os mais otimistas a dizer que os 27 anos foram a melhor fase de suas vidas. E que não tiveram problema nenhum na passagem da juventude à fase adulta, que tudo correu muito bem, ostentando-a como uma particular era de ouro. Estes eu chamo de sortudos.

O seriado “Friends” foi, por exemplo, elaborado primeiramente para mostrar seis amigos que passariam pelos eventuais conflitos e infortúnios do começo da vida adulta, a partir dos 27 anos. Os produtores David Crane e Marta Kauffman afirmam que queriam salientar o momento da vida em que o futuro parece incerto e nos encara, implacável. E este momento é exatamente a fase na qual as responsabilidades crescem, assim como as exigências. A fase na qual todos ouvem o tic-tac dissoluto do relógio a fim de acompanhar nosso desespero, e desajeito, em colocar tudo nos eixos até os temidos 30.

 

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Aos 27 é quando começa, de fato, a corrida para alcançar o sucesso, uma vez que a esta idade, geralmente, se está preparado para o competitivo mercado de trabalho. Além de, supostamente, ter maturidade o suficiente para assumir um compromisso que leva à obviedade e regra da vida: família e filhos. E ai de nós se chegarmos aos 30 sem tais resultados.

E é por essa pressão que começa por volta dos 27 anos – de tomar decisões, ir de encontro a desafios, dar a cara (e, por vezes, a dignidade) à tapa – é que muitos acabam fracassando. É também pelo excesso de confiança que faz acreditar que se tem e que se é. Aos 27, somos jovens o suficiente para agüentar o mundo inteiro nas costas. E velhos demais para não aceitar a responsabilidade desse peso. O fracasso mora dentro desses pensamentos.

Lembro-me como se fosse ontem: no dia exato do meu aniversário, eu estava dentro de um avião fazendo a ponte Nova York – São Paulo. Foram aproximadamente nove horas de um sentimento sufocante de fracasso. Explico: fui para ficar, não fiquei. Por variadas razões, a que não darei destaque, meus planos estavam voltando comigo. Eu tinha sentimentos rasgados e sentia o cheiro da poeira da velharia que eu carregava dentro de mim, como objetivos não cumpridos e promessas não cumpridas, que não seriam mais esquecidos. Portanto, meus 27 anos também foram trágicos e, o que é pior, já nas primeiras horas, cumprindo com categoria o grande clichê que acompanha a idade.

Ao meu lado, no avião, acompanhou-me um americano de Seattle. Em meio à conversa contei a ele que fazia aniversário. No que ele observou, com um olhar paternal: “Você não parece muito feliz para quem está com 27 anos”. Soltei um sorriso tímido e disse que tentaria. Ele respondeu: “Tente com mais vontade”.
E daí que eu nunca mais me esqueci de tudo o que aquele homem me disse com apenas uma frase que, para mim, é tão boa quanto a afirmação de Churchill: “O sucesso é saltar de fracasso em fracasso sem perder o entusiasmo”.

 

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O fracasso é um direito individual – pensei ao sair do avião. E ao olhar para os meus pais, que me esperavam no portão de desembarque, imaginei que eles se perguntavam por que diabos eu estava sorrindo. E eu estava sorrindo. Abraçaram-me, pegaram minha bagagem e me olharam como se soubessem exatamente como me sentia. E, depois de alguns momentos, meu pai disparou: “Querida, eu já tive 27 anos”. E o que ele quis dizer foi: “Querida, eu também já fracassei extraordinariamente”.

 

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Logo, o problema que ronda os 27 é a vida. A vida que atrasa em nos ensinar como devemos fracassar numa fase em que o fracasso é quase uma regra. E o que é pior, é a vida que jamais nos ensina como devemos nos levantar de uma queda. Para aprender isso teremos que tropeçar e cair. E cair de novo e de novo e mais uma vez até que a nossa queda permita-nos levantar de modo teatral. E, cá entre nós, ninguém levanta de modo teatral aos 27.

 

Texto originalmente postado por Rejane Borges para o site

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