Ao revelar que namora um homem de 47 anos, garoto de 18 expõe hipocrisia no meio LGBT+
O ano é 2019 e, ao invés de estarmos nos locomovendo em carros voadores, ainda tem gente atacando parceiros com significativa diferença de idade.
O tabu que envolve relacionamentos entre pessoas maiores de idade e que não estão na mesma faixa etária deu as caras no Youtube. Com uma peculiaridade que chama a atenção: o relacionamento em questão é homoafetivo, e o preconceito veio justamente da comunidade LGBTQI+.
A mesma comunidade que disse “ninguém solta a mão de ninguém”, já que são vítimas de constante preconceito por parte da população, é a mesma que incendiou as redes sociais com comentários extremamente moralistas. Veja alguns:
vcs acham normal um garoto de 18 anos namorar um homem de 47?
— ؘ amy (@harringrovex) August 7, 2019
Para entender o que aconteceu:
Há alguns dias, o estudante de comunicação, Gabriel Mallet (18 anos), publicou em seu canal no YouTube um vídeo onde fala sobre seu relacionamento com o economista e empresário Flávio Chevis (47 anos).
Era para ser mais um vídeo como tantos outros sobre o relacionamento de um casal – com o detalhe de terem 29 anos de diferença. Mas não foi exatamente isso o que aconteceu. O vídeo, assistido 400 mil vezes e com quase 5 mil comentários, evidenciou uma faceta um tanto quanto hipócrita da comunidade LGBTQI+, que teceu duras críticas à diferença de idade entre os dois.
Outro ponto levantado por muitos é que não haveria sentimento entre o casal e que a dinâmica entre Gabriel e Flávio seria de um relacionamento “Sugar” – quando um homem mais velho e bem sucedido mantém financeiramente o parceiro em troca da relação.
Em entrevista ao SOS, Mallet contou que, na adolescência, sofreu preconceito inclusive no ambiente familiar em virtude da sua orientação sexual.
No vídeo postado no Youtube, Gabriel chega a mencionar que era constantemente agredido fisicamente por pessoas próximas; mas que atualmente essa realidade não existe mais.
“Todos os nossos familiares e amigos sabem do nosso relacionamento e aprovam, nunca foi algo escondido, sempre postamos fotos nas redes sociais e foi algo “público” desde o inicio, mas com uma quantidade menor de pessoas nos acompanhando“, contou.
O estudante disse que considera positivas as problematizações sobre relacionamentos com menores de idade, mas afirma que não se aplica ao seu caso, já que estava prestes a completar 18 anos quando iniciou o relacionamento.
Mallet falou também sobre as ‘acusações’ a respeito de supostos interesses financeiros envolvidos no relacionamento do casal:
“Acredito que as pessoas que julgam não assistiram o vídeo por inteiro, pois nós fizemos questão de explicar o que é um relacionamento ‘sugar’ e falamos que nosso relacionamento não se trata de um. Não é de hoje que existe esse preconceito com a diferença de idade“, destacou.
Quando questionado sobre como se sentiu após tamanha repercussão e comentários negativos partindo da própria comunidade LGBTQI+, Gabriel mencionou que ambos se entristeceram, mas preferiram focar nas coisas boas:
“Foi um choque saber da movimentação que estava rolando sobre o vídeo, mas os julgamentos e todo o preconceito foi um choque maior. Não esperávamos essa enorme comoção e julgamento por parte da comunidade LGBTQ+, visto que sempre carregaram a mensagem de que todos são iguais e lutam a favor do ‘amor’.
Mas depois percebemos que estávamos sendo vítimas de um preconceito enraizado e passamos a não ligar para os comentários negativos, apenas demos atenção as mensagens de apoio (que não foram poucas)“.
Ainda sobre o preconceito envolvendo relacionamentos entre pessoas com diferença considerável de idade, o estudante menciona casais com na mesma situação:
- Presidente Jair Bolsonaro e Michelle: 27 anos de diferença;
- Michel Temer e sua esposa Marcela: 42 anos de diferença;
- Ator José de Abreu e a namorada Carol Junger: 51 anos de diferença.
Apesar de reconhecer que esse tabu está presente em todos os relacionamentos, Gabriel destaca:
“Aparentemente, nas relações homoafetivas essa diferença pesa mais”.
Os fatos sugerem que o estudante tem alguma razão, um bom exemplo é o caso Emmanuel e Brigitte Macron, presidente e primeira dama da França, com 24 anos de diferença de idade; Macron se apaixonou por Brigitte quando ela era sua professora, e o presidente francês tinha apenas 15 anos. Para a imprensa brasileira o relacionamento é “uma história de amor atípica fascinante“.
Já é incômodo que o preconceito com casais homoafetivos parta da sociedade heteronormativa; mas quando a comunidade LGBTQI+ também “joga pedra na Geni” evidencia o quanto grupos marginalizados também podem ser cruéis com os seus.