Os perigos de amar ou odiar demais
Por que algumas pessoas têm a tendência de amar ou odiar demais? Vamos entender como a primeira infância influencia esse comportamento e como pode afetar a vida.
Quem nunca ouviu a frase “8 ou 80” para definir alguém que está sempre indo de um excesso a outro? O que acontece quando isso inclui sentimentos?
Amar alguém demais, idealizando essa pessoa sem limites – ou, na mesma proporção, odiar uma pessoa de modo que todas as suas atitudes pareçam fundadas em más atenções, além de uma prática imatura, pode trazer bastante sofrimento.
A pergunta, no entanto, é: por que algumas pessoas têm a tendência de amar ou odiar demais?
Quais são os efeitos disso nas relações?
E se nós disséssemos que tudo isso tem lugar lá na primeira infância, durante o período de amamentação? Você acreditaria?
Melanie Klein: teoria sobre o desenvolvimento infantil
Melanie Klein (1882-1960) foi uma psicanalista austríaca fortemente influenciada por Freud, mas que promoveu pequenas (porém importantes) mudanças na interpretação do fundador da psicanálise sobre o desenvolvimento infantil.
Segundo Klein, desde os primeiros meses de vida, a vida psíquica do bebê já é povoada por várias figuras, que são estabelecidas com base nos conceitos psicanalíticos de pulsão de vida e pulsão de morte – as duas pulsões que formam o sujeito, de acordo com Freud.
Os estudos da psicanalista mostram que, durante o período de amamentação, o bebê – ainda sem qualquer maturidade psíquica – resume seu mundo ao seio da mãe. Quando suas necessidades são atendidas prontamente, seu imaginário cria o que seria o “seio bom”. Já, quando existe qualquer tipo de negação, o bebê prontamente concebe o seio como “seio mau”.
Sim, isso pode parecer bem confuso. Por isso, vamos simplificar: ao ter suas necessidades satisfeitas, o bebê passa a amar incondicionalmente sua mãe. No entanto, é só ela negar o seio uma vez para despertar sentimentos profundos de hostilidade na criança.
Mas o que isso tem a ver com “8 ou 80”?
A resposta parece bem simples: ao amar a mãe quando seus desejos são satisfeitos e odiá-la quando não tem o que quer, o bebê nos dá uma pista muito importante da nossa própria fundação psíquica.
Os sentimentos de amor profundo e de ódio estão relacionados a uma idealização que fazemos de alguém – e que não corresponde a realidade.
O auge da maturidade emocional é compreender que todos podemos ser ruins e também bons em determinadas situações (e, obviamente, deixar de ser tão “8 ou 80”).
Amar ou odiar demais não é saudável para nenhum tipo de relação. Em certo momento da vida, precisamos perceber que as complexidades de alguém não são motivos para ódio, principalmente quando existe uma convivência diária.
Para isso, descobrir as próprias características, positivas e negativas, é um passo importante para conviver bem em sociedade. É impossível ser empático de verdade com os outros, se não dermos atenção às nossas emoções e sombras também.
Essa dicotomia (do bom contra o mal) é ingênua e não leva a lugar algum. Ninguém vai nos satisfazer completamente, nem nós mesmos. Buscar o equilíbrio nos tons de cinza nem sempre é fácil, mas é justamente por isso que podemos contar com profissionais capacitados.
Em outras palavras: façamos terapia!