Em 2018, a Folha de S. Paulo denunciou que o então presidente Michel Temer havia censurado os resultados da pesquisa da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) sobre o 3º Levantamento Nacional sobre o Uso de Drogas pela População Brasileira. Como resposta, o Ministério da Justiça emitiu nota afirmando que os resultados não haviam sido divulgados porque a metodologia adotada não era a esperada.
O inquérito domiciliar avaliou os parâmetros epidemológicos do uso de drogas na população brasileira entre 12 e 65 anos, de ambos os sexos e em todo o país – inclusive nas áreas rurais e regiões de fronteiras. Cerca de 17 mil pessoas foram ouvidas e mais de 400 profissionais foram envolvidos no processo, custando mais de R$7 milhões aos cofres públicos.
A pesquisa foi feita, isso não há que se contestar. A agência de notícias The Intercept Brasil teve acesso à íntegra dos resultados e os dados mostram que a tão falada epidemia das drogas não é bem o que se propaga.
Alguns dos apontamentos feitos na pesquisa:
Consumiu ao menos 1 vez na vida
- Álcool: 66,4%
- Qualquer droga (não-alcoólica): 9,9%
- Maconha, haxixe e skank: 7,7%
- Cocaína: 3,1%
- Solventes: 2,8%
- Crack: 0,9%
Fez uso no último ano
- Álcool: 43,1%
- Qualquer droga (não-alcoólica): 3,2%
- Maconha, haxixe e skank: 2,5%
- Cocaína: 0,9%
- Solventes: 0,2%
- Crack: 0,3%
Consumiu nos últimos 30 dias
- Álcool: 30,1%
- Qualquer droga (não-alcoólica): 1,7%
- Maconha, haxixe e skank: 1,5%
- Cocaína: 0,3%
- Solventes: 0,1%
- Crack: 0,1%
O discurso de defesa à “Guerra as Drogas” no Brasil é colocada em cheque quando analisamos os dados da pesquisa: epidemia de drogas (crack)… ou álcool? Na busca por respostas, 24 entidades solicitam a divulgação da pesquisa.
O problema se aprofunda no governo Bolsonaro pois, enquanto mantém a pesquisa engavetada, revogaram a portaria de Redução de Danos para tratamento de dependentes. Para o presidente da Plataforma Nacional de Política de Drogas, Cristiano Maronna, também não há, nas propostas do pacote anticrime de Moro, uma previsão específica sobre alteração da política de drogas.