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Sinta-se Bem

Agrotóxico que emburrece crianças faz sucesso no Brasil, enquanto é banido no mundo

Os males causados pelo clorpirifós são graves e extensos.

Daiane Oliveira Publicado: 02/07/2019 11:44 | Atualizado: 02/07/2019 12:03
  • Clorpirifós foi criado para ser usado como arma química em guerras.

  • Entre os males, o agrotóxico reduz cerca de 2,5 o QI de crianças.

  • A Europa está convencida dos efeitos nocivos, EUA segue esse caminho.

  • De forma inédita, 239 novos agrotóxicos foram aprovados por Bolsonaro.

Há algumas semanas falamos aqui no SOS sobre o Sulfluramida, um agrotóxico que vem sendo proibido mundo afora, mas continua sendo bastante utilizado no Brasil. Esse pesticida que atua contra formigas cortadeiras pode causar infertilidade, problemas na tireoide e até diminuir o tamanho do pênis.

O pesticida em questão agora é o Clorpirifós, um ativo pertencente ao grupo químico dos agrotóxicos organofosforados, utilizado amplamente em lavouras e até para controle de baratas em residências, uso esse proibido no Brasil desde 2004.

Para nós, leigos, é um pouco difícil entender a complexidade do composto, mas uma informação ajuda a ter dimensão dos perigos desse tipo de agrotóxico, conforme explica matéria do jornal francês Le Monde: de maneira geral, eles surgiram como armas químicas usadas, inclusive, durante a Segunda Guerra Mundial.

Na mesma matéria, o veículo menciona que a Comissão Europeia está tão convencida dos efeitos nocivos desse inseticida que pretende propor sua retirada completa do mercado europeu. Seis estados nos Estados Unidos também estão avaliando essa possibilidade. Vale dizer que esteve prestes a ser interditado em todo o país, antes de Trump assumir a presidência.

Já no Brasil, a conversa é bem diferente: dados levantados pela Carta Capital mostram que no Brasil já foram vendidos mais de 6 toneladas por ano desse inseticida que, apesar de perigoso, tem comercialização e uso permitidos pela Anvisa.

Aliás, quando o assunto é agrotóxicos, o que temos visto no Brasil é um movimento exatamente contrário do que se passa nos países desenvolvidos: nunca se liberou tantos agrotóxicos quanto no atual governo, até o momento dessa publicação foram 239 novos venenos aprovados pela equipe de Bolsonaro; um recorde sem precedentes.

Quais os riscos?

A Universidade de Harvard detalha o histórico do Clorpirifós – que chegou a ser o agrotóxico mais utilizado em culturas agrícolas nos Estados Unidos. Dentre os principais efeitos colaterais que a exposição ao pesticida pode causar, cientistas mencionam a redução de cerca de 2,5 no Quociente de Inteligência (QI) de crianças; além de outros prejuízos como:

  • Atraso Mental;
  • Atraso de psicomotor;
  • Transtornos de Atenção;
  • Transtornos do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH);
  • Transtornos Globais de Desenvolvimento.

Pode parecer tudo meio confuso e distante, mas não é. No Brasil, por exemplo, já existem registros de contaminação por Cloripifós. Um caso emblemático no país ocorreu em 1999 quando mais de 100 funcionários de um hospital em Porto Alegre foram contaminados e desenvolveram sintomas como síndrome metabólica e confusão mental.

O próprio fabricante de um pesticida cujo Clorpirifós é o ingrediente ativo elenca sintomas e sinais clínicos que podem ser percebidos após contaminação pelo produto. Destacamos alguns:

  • Paralisia da musculatura respiratória;
  • Alteração na frequência cardíaca e pressão arterial;
  • Confusão Mental;
  • Comprometimento da memória e concentração.

Com tantos perigos, por que esse e outros agrotóxicos continuam circulando livremente pelo país?

A resposta é simples e difícil de digerir: interesses econômicos.

Em entrevista à Carta Capital sobre o assunto, Armando Meyer, pesquisador da UFRJ afirma que há outras alternativas ao uso do Cloripifós mas que, infelizmente, “tudo é uma questão de custo-benefício. E saúde será sempre um custo no uso dos agrotóxicos.

Há alguns anos a geógrafa Larissa Mies Bombardi já falava à USP sobre os interesses por trás do constante e crescente uso de agrotóxicos no país:

“Então é uma opção política, relacionada à pressão da bancada ruralista e das empresas de agrotóxicos como dos próprios empresários do agronegócio, que querem garantir a continuidade desse modelo (…) O ideal seria uma agricultura sem agrotóxicos. É uma questão ambiental para a humanidade. Não estamos nem engatinhando nisso ainda.”

Fonte(s): Carta Capital, National Geographic, Anvisa, Regulations, Ecycle, Altos estudos
Daiane Oliveira
Jornalista, artesã, feminista, acadêmica de Literatura e mãe. Discute religião, política, sexo, hábitos sustentáveis e amenidades. Não discute futebol porque não entende. Quem sabe um dia.

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