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Vai, planeta!

PANC: Precisamos falar sobre o “mato comestível”

Para alguns erva-daninha, para outros comida super nutritiva.

Dario C L Barbosa Publicado: 02/04/2018 15:54 | Atualizado: 09/09/2019 12:37

Você sabia que nós consumimos apenas 0,06% das plantas comestíveis existentes no mundo? Sabendo disso, é fundamental refletir sobre onde se escondem as outras 99,94% espécies capazes de nos alimentar.

Pois acredite, elas estão no fundo do seu quintal, em meio as flores do seu jardim ou até naquele terreno baldio da rua de trás.

Para grande maioria da população, algumas plantas com alto valor nutritivo ainda são vistas como ervas daninhas, ou simplesmente, mato. Nós estamos falando das PANC, Plantas Alimentícias Não Convencionais.

De uns tempos para cá, a procura por uma alimentação mais saudável fez com que as PANCs, as plantinhas nada convencionais, começassem a ganhar notoriedade.

Encaradas por muitos, principalmente por agricultores convencionais, como mato, essas plantas possuem alto valor nutritivo e não necessitam de cuidados de plantio para se desenvolverem. Por este motivo, muitas das espécies podem ser encontradas por todo o mundo, quase sempre escondidinhas em canteiros de praças, terrenos abandonados, etc.

São consideradas PANCs qualquer tipo de planta que ofereça algum valor nutricional para quem a consome, seja diretamente (comendo a planta pura ou em algum preparo), como indiretamente (através da farinha produzida com ela, por exemplo).

Uma PANC super famosa, que inclusive já “ganhou” um artigo aqui no SOS, é a Ora-Pro-Nóbis. Para termos uma ideia do poder nutricional dessa planta, um estudo comprovou que, além da proteína bruta (25% de cada folhinha é composta de proteína), ela pode contribuir com a ingestão de fibra e prevenir várias doenças como varizes, câncer de cólon, hemorróidas, tumores intestinais e diabetes.

Ora-Pro-Nóbis

De acordo com Valéria Pacoal, diretora da VP Consultoria em Nutrição Funcional, em entrevista ao Estadão, diversas pesquisas sobre esses alimentos já estão sendo feitas, porém ainda em fase inicial.

Segundo a especialista, já temos catalogado no mundo todo cerca de 25 mil espécies de plantas comestíveis. Cerca de 8 a 10 mil dessas espécies existem só no Brasil, e mesmo assim nosso hábito alimentar nos faz ter acesso apenas a 300 tipos.

Por que não tem no mercado?

Apesar da variação que temos no mercado, é quase impossível – pelo menos por enquanto – encontrarmos com uma PANC na gondola do horti-fruti. Mas se elas são tão nutritivas e de fácil cultivo, porque nem todos temos acesso?

Segundo John Warrer, professor de botânica na Universidade de Aberystwyth, Grã-Bretanha, em entrevista à BBC, uma das explicações mais comuns à essa pergunta é que a impopularidade das PANCs é por segurança, uma maneira de evitar que a população se intoxique, ou seja, comer plantas que não são comestíveis por engano.

Mesmo assim, segundo o especialista, isso não faz mais sentido. Muitas plantas que consumimos hoje já foram ditas como tóxicas no passado e nós aprendemos maneiras de driblar isso através de alguns procedimentos no preparo, como o cozimento, que pode eliminar a toxidade de uma planta, tornando-a comestível.

Na realidade, as PANCs não possuem a popularidade que o a alface, a rúcula ou todas as outras plantinhas que encontramos na feira pois sua produção em larga escala é bem complicada se comparada com as outras espécies já conhecidas.

Conforme explica Warrer, as PANCs, apesar de fácil cultivo, são difíceis de serem domesticadas pela indústria agrícola e por esta falta de controle na plantação, elas acabam ficando excluídas do mercado. Para o capital é simples: se não gera lucro, por que investir?

A falta de conhecimento e divulgação sobre o tema também contribui para a ausência das PANCs em nosso cardápio diário, já que, como estamos acostumados com os alimentos populares e não sabemos a existência de outras possibilidades, qual o motivo da industria se esforçar para produzir um “produto” cujo a clientela ainda nem existe?

Muita calma nessa hora

Antes de sair pegando os “matinhos” da rua e fazendo salada, calma lá! Apesar de tantos benefícios, identificar as plantas que realmente são comestíveis exige um certo estudo e um pouco de conhecimento para não correr risco.

Afinal, existem muitas outras plantas nesse mundão que não são comestíveis e representam alto teor de toxidade se ingeridas. Por isso todo cuidado é pouco.

A nutricionista e colunista do projeto voltado à boas iniciativas, Por Que Não?, Bruna de Oliveira, publicou algumas dicas que serão bastante úteis caso você esteja pensando em incluir as PANCs em sua dieta.

Como identificá-las

Segundo a nutricionista declarou em um vídeo, para saber identificar qual planta é comestível não há saída, é preciso investir um tempo estudando as espécies.

É importante que se decore não apenas o nome popular da planta, mas também seu nome científico. Assim, sua pesquisa será mais certeira e com menos índices de erro pois, como afirma a especialista, existem nomes populares que servem para duas plantas diferentes, sendo que uma delas é comestível e a outra não.

Conte com a ajuda de sites de confiança, livros especializados ou se informe com especialistas. O livro “Mais que Receitas“, um projeto da rede virtual focada em educação alimentar e nutricional, Ideias na Mesa, possui uma sessão só dedicada a comidinhas feitas com as PANCs. Também há este outro livro de receitas disponível online, só com opções de prato usando as plantinhas comestíveis.

Se não tem certeza, não coloque na mesa

Ficou na dúvida se aquele “matinho” é mesmo uma PANC ou não? Então não coma!

Exitem muitas plantas que oferecem risco à nossa saúde e muitas outras que necessitam de um preparo especial para o consumo. Se mesmo com sua pesquisa, ainda restar um receio sobre a planta em questão, faça o mais seguro e não coma até ter certeza absoluta de qual espécie se trata.

Finalmente conseguiu sua PANC e está ansioso ou ansiosa para provar pela primeira vez essa “iguaria”. Pois então, faça o consumo com moderação, evite exagerar. A nutricionista recomenda comer primeiro uma pequena porção, para ver como seu corpo reagirá a este novo alimento.

Para ajudar na ingestão, procure preparar o alimento cozido, refogado ou até mesmo frito.

Já sei cozinhar, mas onde encontrar?

Uma maneira de encontrá-las de forma mais segura (sem risco de erro na identificação, sem colhe-las de terrenos poluídos, etc.) é através das feirinhas orgânicas. Em São Paulo você pode acessar esse link e localizar as feirinhas mais próximas da sua região.

E também como uma outra alternativa, porém um pouco mais “salgada”, é conhecer algum restaurante que faça uso das PANCs em seus pratos. Atualmente diversos chefes renomados, como Alex Atala e Helena Rizzo, estão inserindo em seus pratos os tais “matinhos comestíveis”.

Segundo artigo da Forbes Brasil, além do visual exótico que a PANC agreda ao prato, os chefes também alegam utilizarem essas plantinhas devido à busca pela simplicidade nos ingredientes e pelo sabor diferenciado que possuem.

13 PANCs para você conhecer

Abaixo, selecionamos algumas PANCs que você poderá encontrar nessa grande horta que chamamos de mundo. Olha só!

1. Serralha (Sonchus oleraceus)

Essa planta é uma poderosa fonte de vitaminas A, D e E. Assim como boa parte das PANCs, se desenvolve quase em qualquer lugar e geralmente é consumida como salada ou algum prato cozido. Seu sabor é amarguinho e lembra muito o espinafre.

2. Beldroega (Portulaca oleracea)

Essa plantinha que possui apenas 16 calorias em cada 100 gramas, é rica em Ômega 3 (pode conter mais que óleos de peixes), vitamina C, minerais e antioxidantes.

Seu consumo está bastante associado à redução do risco de doença cardíaca coronária e na prevenção do desenvolvimento de TDAH, autismo e outros problemas de desenvolvimento em crianças. Ela pode ser consumida cozida, refogada, em saladas e até no preparo de tacos mexicanos.

3. Ora-Pro-Nóbis (Pereskia aculeata)

Muito comum nos quintais mineiros, a espécie é rica em proteína vegetal (25%). Suas folhas, flores e frutos podem ser consumidos crus ou cozidos. Conforme já citamos, seu consumo está associado com a prevenção de várias doenças como como varizes, câncer de cólon, hemorróidas, tumores intestinais e até diabetes.

4. Saião (Bryophyllum pinnatum)

Suas folhas são muito usadas na medicina popular para tratar úlceras e gastrites. Pode ser consumida crua, como salada, ou batida com água e limão, formando um suco verde.

5. Trapoeraba (Commelina sp)

Também conhecida como “tracoeraba”, “trapoerava” ou “olho-de-santa-luzia”, a trapoeraba é rica em fibras, proteínas e sais minerais, como cálcio, magnésio e zinco.

Além disso, ela é diurética, anti-inflamatória e anti-reumática. Seu consumo pode ser feito através de salada, refogados, ensopados, com arroz e no cozimento de omeletes. Já suas flores podem ser ingeridas in natura.

6. Tagete (Tagetes filifolia)

Muito popular por ser usada no enfeite de túmulos no “Dia dos Mortos”, comemorado no México, essa planta (também conhecida como “cravo de defunto”) é aromática, apresentando um leve odor de anis.

As folhas podem ser usadas para chás ou como condimentos em sopas e carnes assadas, inclusive, dizem ser um bom substituto ao açafrão. Seu consumo é associado com o combate a indigestão, cólica, constipação, desinteria, tosse e febre.

Em certas regiões, as mulheres utilizam o chá da planta para acelerar a menstruação, proteger contra o aborto espontâneo e dores no peito.

7. Picão Branco (Galinsoga parviflora)

Essa planta que produz lindas florzinhas amarelinhas também ostenta folhas comestíveis e super nutritivas.

Seu consumo geralmente é feito através do chá dessas folhas, que entregam ao organismo suas propriedades cicatrizantes e anti-inflamatórias, assim como o auxílio ao sistema hepático, desintoxicando-o e regenerando-o.

8. Mangará (Xanthosoma sagittifolium)

Também conhecida como Taioba ou “Orelha de Elefante”, essa PANC tem em suas folhas mais vitamina A que a cenoura, assim como uma boa quantidade de cálcio, fósforo, ferro, proteínas e outras vitaminas.

Recomenda-se cozinha-la antes de consumir e incluí-la em outras receitas como bolinhos, recheios de crepes, em pizzas, em vitaminas verdes, como tempero de sopas, etc. Seu sabor é semelhante ao do espinafre.

9. Dente-de-Leão (Taraxacum officinale)

Quem nunca assoprou um dente-de-leão que atire a primeira pedra. Mas além de seus “sementes voadoras” encantarem nossos olhos, essa planta também faz um bem danado à saúde.

Suas flores, folhas e raízes são comestíveis e seu consumo está associado ao combate ao câncer, a melhora da saúde óssea, aumento da energia, controle de complicações no fígado e estimulo à digestão. Além disso, ela também é ótima para prevenir acne, anemia e tem efeito diurético.

10. Caruru (Amaranthus viridis)

A planta é rica ferro, cálcio e potássio, além de possuir as vitaminas A, B1, B2 e C. Seu consumo é indicado para tratamento de problemas hepáticos e diversas infecções, entre elas a de garganta e urinárias.

O caruru também é indicado para pessoas que sofrem por problemas relacionados ao excesso de bebidas alcoólicas, pois suas propriedades ajudam a fortalecer o fígado. Ela pode ser ingerida através de chás, como salada ou refogados.

11. Celósia (Celosia argentea)

Também chamada de “Crista-de-Galo”, essa plantinha é muito usada na medicina tradicional chinesa, pois seus grãos são ricos em fibras e proteínas, suas folhas e brotos podem ser cozidos e comidos como vegetais.

Seu consumo é muito recomendado no tratamento das hepatites crônicas, do reumatismo e problemas respiratórios. Pode-se consumi-la como as outras verduras, ou seja, em saladas, cozida ou refogada.

12. Espinafre Indiano (Basella alba)

Também chamada de Bertalha, essa planta tem seu consumo associado à uma infinidade de benefícios à nossa saúde, como combater radicais livres, melhorar a saúde dos ossos, melhorar vida sexual, combater anemia, melhorar a visão e combater problemas do fígado.

Seu consumo pode ser feito através de saladas, cozidos, assim como incrementar sopas, tortas, etc.

13. Malvavisco (Althaea officinalis)

O Malvavisco pode ser consumido por completo, sua raiz, folhas, flores e caule são comestíveis e muito nutritivos.

Seu consumo é indicado para beneficiar o trato respiratório, amenizando problemas como tosse, bronquite, aliviar feridas na boca, dores de dente, etc., pois ela é um excelente anti-inflamatório. Geralmente ele é consumido como chá.

– Para conhecer outras PANCs basta acessar o site do projeto “Mato de Comer”, especializado nessas plantinhas comestíveis, clicando aqui.

Fonte(s): BBC, Estadão, PorQueNão?, PorQueNão? - Youtube, Forbes Brasil
Dario C L Barbosa
Fundador e editor do Almanaque SOS. Paulistano, formado em Comunicação Social, trocou o rádio e a televisão pela internet em 2012. Vegetariano, meditante, na luta por consciência e equidade. ( Twitter - Instagram ).

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