Absorventes podem estar contaminados com glifosato, um poderoso agrotóxico
Em condições ideais, a cada 28 dias, as mulheres recorrem aos absorventes para conter o sangramento da menstruação. Há uma enorme variedade desses produtos no mercado, sendo que a maioria deles é fabricada à base de algodão.
Um item inofensivo, à primeira vez, mas que pode conter um grande perigo.
Sejam eles internos ou externos, os absorventes estão em contato direto com a vulva, área mais aparente do sistema reprodutor feminino. Essa região é a porta de entrada para o útero, por isso, é extremamente sensível para a manutenção da saúde das mulheres.
O segredo sombrio dos absorventes
Contudo, um estudo desenvolvido na Universidade de La Plata, na Argentina, liderado pelo professor Damian Marino, revela um dado preocupante: 85% dos absorventes e produtos de higiene feminina estão contaminados por glifosato, um dos principais componentes do agrotóxico Roundup – o mais vendido da gigante Monsanto.
“Isso interfere diretamente na saúde íntima, podendo deixar o corpo suscetível à infecções recorrentes, corrimentos, coceiras, podendo afetar a fertilidade e o ciclo menstrual da mulher diretamente. Acredito que em alguns podendo ser até mais grave desenvolvendo um câncer”, nos explica a terapeuta natural, Carolina Lana.
Isso porque, enquanto ecossistema dinâmico, os componentes químicos presentes no algodão são absorvidos pela vagina e distribuídos pelo corpo ao caírem na corrente sanguínea. Ao longo da vida, as mulheres chegam a utilizar quase 17 mil absorventes contaminados.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o agente químico presente no algodão é considerado provavelmente cancerígeno. Inclusive, aquele mesmo produto da Monsanto citado anteriormente rendeu uma indenização de 2 bilhões de dólares à um casal de americanos que teve câncer por conta da substância.
O glifosato ainda está associado ao aparecimento de outros problemas, como:
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perda intelectual,
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autismo,
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déficit de atenção,
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obesidade,
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diabetes,
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infertilidade
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e doenças cardiovasculares.
Além do agrotóxico, os pesquisadores encontraram em 62% das amostras uma variação do glifosato metabolizado, que é 1.000 vezes mais tóxico do que o produto original. É, não tá fácil.
A ginecologista natural Débora Rosa orienta que é preciso estar atenta ao rótulo dos absorventes descartáveis, onde é possível encontrar mais informações sobre os elementos tóxicos do produto e que podem causar desde inflamações e infecções, à endometriose e câncer.
É o caso da dioxina e amianto, que a aumentam o fluxo menstrual; fitalatos, responsáveis pelo perfume dos absorventes, mas que podem bloquear a ação de hormônios naturais; o rayon de viscose, que pode causar irritações; e parabenos, que favorecem o crescimento de fungos e bactérias.
Onde tudo começa
O agrotóxico é aplicado nas lavouras de algodão transgênico para combater pragas, causadas principalmente pela lógica das monoculturas. Essa variação da espécie é resistente ao pesticida. Assim, as pragas seriam exterminadas, deixando intacta a plantação.
No entanto, o algodão também acaba contaminado, assim como o solo, a água, e agora, o nosso corpo. Na Argentina, assim como no Brasil e ao redor do globo, o agrotóxico é o mais utilizado utilizado nas lavouras. Por isso, os pesquisadores estudam há mais de 15 anos os efeitos desse pesticida na incidência de doenças.
Outros estudos caminham na mesma direção. Como foi o caso dos cientistas franceses que analisaram absorventes fabricados no país e também encontraram vestígios de glifosato nos seus produtos.
Existem alternativas mais seguras
Outras formas de lidar com a menstruação foram desenvolvidas, o que oferece às mulheres opções mais seguras. Além de absorventes feitos com algodão orgânico, os coletores de silicone, os “copinhos”, têm a vantagem de ser reutilizáveis e estão cada vez mais populares.
Quem não se adaptar a este método também pode recorrer às calcinhas menstruais, que se valem da tecnologia para assegurar a absorção. Há modelos que garantem a absorção do fluxo por até 12 horas seguidas.
Débora Rosa explica que, antes da Revolução Industrial no século XIX, que alterou os padrões de produção e consumo do planeta, era comum que as mulheres usassem panos para coletar a menstruação. Também era costume entre as mulheres utilizar esse sangue para fertilizar o solo e melhorar as colheitas.
“Entre vários venenos vendidos em caixinhas como sinônimo de praticidade e solução de todos os problemas, vieram os absorventes descartáveis. Absorventes foram criados na segunda guerra mundial, as enfermeiras paravam de trabalhar na menstruação e inventaram o absorvente.
O absorvente descartável começou a ser amplamente utilizado no Brasil em 1950. Cada absorvente tem quantidade de plástico equivalente a quatro sacos plásticos, demora em média 100 anos para se decompor na natureza”, alerta a especialista.
Seu corpo é político
Mais do que uma questão de saúde, repensar o uso de absorventes é também um ato político de questionar o papel das mulheres na sociedade.
“Atualmente existe um movimento chamado ‘Ecofeminismo’ que traz como propósito examinar padrões psicológicos e culturais pelos quais os seres humanos se distanciaram da natureza.
A presença de agrotóxicos nos absorventes e de forma geral é uma falta de respeito não só para a mulher, mas também com a natureza.
Existe uma relação muito íntima entre a dominação das mulheres e a dominação da natureza, visto que a mulher é uma representação humana da ciclicidade da Terra. Essa notícia vai muito além da saúde, a colonização do corpo mulher precisa ter um fim”, frisou Carolina Lana.
UNLP, RFI, Deutsche Welle, 60 millions, Metropoles, https://www.metropoles.com/vida-e-estilo/bem-estar/pesquisa-revela-resultado-alarmante-soRFI, Deutsche Welle (2), 60 millions, Metropoles (2), https://www.metropoles.com/vida-e-estilo/bem-estar/pesquisa-revela-resultado-alarmante-sobre-absorventesbre-absorventesRFI, Deutsche Welle (3), 60 millions, Metropoles (3) , https://www.metropoles.com/vida-e-estilo/bem-estar/pesquisa-revela-resultado-alarmante-sobre-absorventes