Ter liberdade, principalmente financeira, deve ser é uma delÃcia. Sair da casa dos pais e comprar um apartamento para morar sozinho é um grande passo que a maioria jovens adultos almejam.
Mas nessa altura da vida é difÃcil encontrar algo que seja muito bem localizado e que caiba no bolso, não é mesmo?
Com os preços exorbitantes dos imóveis convencionais, principalmente nas grandes cidades do Brasil, a solução encontrada por imobiliárias e construtoras tem sido apostar nos apartamentos menores, que ofereçam serviços para suprir o espaço “que falta” nos chamados apartamentos compactos.
Estamos falando de apartamentos com metragens de: 35 m², 25 m² ou até mesmo 14 m².
Ou seja, super compactos mesmo.
Iti Malia!
Pensando bem, é quase uma kitnet gourmetizada.
Uma das diferenças é que esses apartamentos compactos ou studios podem ter mais do que um único cômodo (definição de kitnet), e os espaços são otimizados para criarem todos os ambientes de um apartamento comum, além de ser mais ajeitadinho.Â
A ideia parece ter sido bem aceita pelo público, que, em sua maioria, tem um perfil mais jovem. Costumam a ser solteiros, adultos separados ou divorciados e até mesmo casais jovens.
Segundo a assessoria do Escritório Glaucio Gonçalves Arquitetura e Design, tem aumentado substancialmente a busca por microapartamentos por serem mais práticos e estarem repletos de serviços, em função de tendências demográficas e sociais.
De acordo com dados da Pesquisa do Mercado Imobiliário, realizada em maio deste ano, pelo Secovi-SP, órgão que representa o setor imobiliário, os imóveis com menos de 45 m² de área útil destacaram-se em todos os indicadores, como por exemplo, a maior quantidade de vendas.
Microapartamento decorado.
Ricardo Pajero, gerente comercial da MAC Construtora e Incorporadora, acredita que essa é uma tendência não só no Brasil, mas mundial, que funciona principalmente nas grandes cidades, pois, para ele, o apartamento compacto está ligado diretamente à mobilidade, lazer, comércio e serviços.
“O jeito de morar mudou devido à grande mudança tecnológica e social”, afirma Pajero.Â
Como tornar um microapartamento mais funcional?
Num compacto é preciso otimizar os espaços para se ter um apartamento “completo”. Pensando nisso, os arquitetos tiveram uma sacada para oferecer aos que optam pela comodidade: o sistema turn key.
Conhecido como contrato de chave na mão, o turn key é uma das opções na hora de montar e decorar espaços pequenos. Mas o que significa isso exatamente?
De acordo com o arquiteto Glaucio Gonçalves, criador do projeto, nada mais é que entrega do apartamento já decorado e pronto para morar ou apto para locar, a partir da entrega das chaves pela construtora. Nesse sistema, a equipe do escritório fica responsável por supervisionar fornecedores e todos os detalhes da execução do projeto e da obra.
“Para esses microapartamentos, o desafio é trazer para uma área compacta, praticidade, funcionalidade e integração de ambientes com espaços de circulação, e tudo isso com um toque de aconchego”, afirma Glaucio.
Cozinha decorada em apartamento compacto
Para quem não tem muito tempo ou jeito para decoração, pode ser uma saÃda interessante, agora é preciso ver se compensa o preço da comodidade. Pois é, essa brincadeira decorada não é nada barata.
Mas dá para viver em tão pouco espaço?
De acordo com quem mora, dá sim. O advogado André Rosengarten Curci, 28 anos, recém proprietário de um compacto de 35 m² na região da Barra Funda, em São Paulo, conta que essa tipologia funciona apenas para pessoas que moram sozinhas ou no máximo para um casal.
“O tamanho do apartamento é perfeito para mim que sou solteiro, mais que isso ia ser muito espaço para pouca gente.”, explica.
O advogado elenca como pontos positivos a praticidade na hora da limpeza e os serviços que o condomÃnio oferece, como lavanderia e clube.
“Tendo em vista esses serviços disponÃveis no condomÃnio e a boa localização, o valor acaba sendo o de mercado mas, por ser menor, cabe no bolso”, relata o advogado.
Planta no sistema turn key.
De acordo com o arquiteto e urbanista, dono da STF Assessoria e Consultoria, Francisco Carvalho, o perfil das famÃlias brasileiras foi mudando ao longo dos anos e as tipologias das moradias foram acompanhando as necessidades da sociedade. Em meados de 2010, após várias pesquisas de perfil da população, surgiu a tipologia dos compactos.
“Face à esse novo perfil da sociedade, somado ao espaço escasso nos grandes centros, o custo elevado por m² e as dificuldades de mobilidade das grandes cidades, surgiu essa modalidade de habitação”, explica o arquiteto.
Ainda sobre a tendência desse tipo de imóvel, ele diz que a alta procura se deve ao fato de satisfazer às necessidades de um determinado público e baratear o custo de estar bem localizado, apesar da diminuição das dimensões não implicar na redução do valor do m².
É por essa preferência na localização que a maioria dos lançamentos de microapartamentos estão em grandes centros urbanos e bairros mais valorizados. Mas, segundo ele, em paralelo a isso ainda há um grande déficit habitacional no Brasil, principalmente, para as famÃlias de baixa renda.
“As polÃticas públicas de todas as esferas terão que dar toda atenção a esse déficit, pois isso gera um atraso no desenvolvimento do paÃs, deteriorando a qualidade de vida da sociedade.”
E isso levanta a questão do processo de gentrificação, que esses empreendimentos podem estar incentivando. É isso mesmo, gen-tri-fi-ca-ção. Para você que não entendeu nada, a gente explica!
Esse é o nome dado ao movimento de saÃda involuntária da população residente dos centros da cidade, por conta dos aumentos excessivos do custo de vida nessa região, decorrente da vinda de novos moradores ou frequentadores mais abastados.
Há quem diga que isso faz parte do processo de revitalização dos centros urbanos, mas é importante entender as diferenças: a gentrificação está ligada a interesses econômicos do setor imobiliário, já o processo de revitalização visa modernizar e suprir as necessidades sociais, para o benefÃcio da população e pode, de alguma forma, levar à gentrificação.
Portanto, apesar dessa nova modalidade de moradia estar em alta e parecer interessante, precisamos ficar atentos se ela atende muito mais aos interesses do setor imobiliário do que os nossos.