A Nova Onda da Imperatriz #PraOuvir #Nacional
Hoje vamos falar de movimento! E não estou falando do “movimento sexy”
Estou falando dos movimentos artísticos (tendências ou estilos) de cada período da história. A música sempre esteve relacionada ao movimento da época a que ela pertence.
No Modernismo, tivemos o maestro-gênio Heitor Villa-Lobos, responsável por obras que engrandeciam o espírito nacionalista, utilizando músicas folclóricas, populares (cantigas) e indígenas para aproximar o erudito do popular.
Aí veio o Regime Militar, fomos bombardeados por informações subliminares (já que não se podiam comentar certos assuntos ou citar palavras consideradas ofensivas ao Regime) e os autores usavam o “jeitinho brasileiro” para conseguir burlar o sistema e transmitir a mensagem que queriam.
Chico Buarque, por exemplo, compôs “Cálice” no movimento Pró-Democracia, e teve seu microfone desligado durante apresentação em São Paulo, mesmo modificando a letra, tamanha pressão da ditadura.
Fomos marcados também por vários outros movimentos e a música sempre esteve presente como soundtrack da ocasião.
Nos anos 80, as críticas políticas e sociais também estiveram presentes nas letras de grandes poetas:
Herbert Vianna e Lulu Santos
Sequestraram a fonética, violentaram a métrica,
Meteram poesia onde devia e não devia!
Cazuza
Meu partido é um coração partido
E as ilusões estão todas perdidas.
Renato Russo
Ninguém vê aonde chegamos.
Os assassinos estão livres, nós não estamos.
Do final dos anos 80 até meados de 2003, atravessamos o canal da mancha através de um movimento que eu denomino “Miss Mossoró”.
A onda da supervalorização do corpo (e desvalorização do pensamento) embalada ao som axé de Luis Caldas, É o Tchan!, Banda Eva, Netinho, etc. e do pagode de Ginga Pura, Molejo, Raça Negra, etc.
Ao mesmo tempo em que Jane Duboc saía do país e da onda pop brega e ia pra Europa em busca do sucesso, cantando jazz e bossa nova high quality (e conseguiu).
Hoje em dia, vivemos um movimento diferente dos anteriores.
Temos menos poesia, mais liberdade, menos educação nas escolas, mais saudosismo (quem nunca ouviu “As músicas de antigamente é que eram boas”?), menos música (ou não), mais intenção de provocar.
Um amigo carioca me disse: Você já ouviu Valesca Popozuda?
Eu que, até então, só tinha conseguido escutar meia estrofe, respondi:
– Não, nunca ouvi!
– Pois ouça, ela está marcando época!
Agora lhe pergunto, caro leitor, que movimento é este que vivemos hoje?
Comecei então a fuçar as letras de Gaiola das Popozudas (grupo de Valesca), e descobri algo importante. Não no quesito poético, nem no cultural – e muito menos musical–, mas no sentido de que ela está realmente marcando um movimento.
Será que Valesca e sua turma são responsáveis pela nova afirmação distorcida da feminilidade no Brasil?
Faz tempo que a mulher deixou de ser dependente de um homem. Ela já não está mais condicionada a ficar esperando o marido com a casa arrumada e comida pronta. A famosa Amélia, de Ataulfo Alves e Mário Lago, bateu as botas!
Hoje a mulher é independente, trabalha em empresas, têm negócios próprios, ocupa cargos importantíssimos (até de presidência), e está disposta a mostrar força o bastante para enfrentar problemas sozinha ou comandar equipes.
Penso que Valesca vulgarizou a sexualidade feminina e expôs o desejo oculto de muitos homens. Com isso, tirou a força do papel moral e social masculino (que era seguido à risca antigamente) e fez renascer das cinzas uma consciência deturpada de domínio.
Escravizou o bom senso e eliminou a sensação pudica da sociedade através de uma só mensagem:
“Eu sei o que você quer de verdade e o que pensa sobre mim. Eu posso usar isso contra você se não me obedecer” #dominatrixnível100.
Como vemos, por exemplo, na letra de “My Pussy É o Poder”:
“Por ela o homem chora,
Por ela o homem gasta,
Por ela o homem mata,
Por ela o homem enlouquece.
Dá carro, apartamento, joias, roupas e mansão
Coloca silicone e faz lipoaspiração
Implante no cabelo com rostinho de atriz
Aumenta a sua bunda pra você ficar feliz
My pussy é o poder!”.
Agora que leu esse artigo, resumindo algumas fases de nossa história, posso repetir a ideia de Renato Russo: “Ninguém vê aonde chegamos”.
Chegamos a um ponto da história brasileira que não dá para piorar ou teremos que nos acostumar com esse “Novo Mundo”?
Essa é uma pergunta que deixaria até Freud rosa!
Talvez Lulu Santos e Herbert Viana tenham errado na afirmação de que “o poeta é a pimenta do planeta”. Mas, sinceramente, espero que não!
DICA DA SEMANA – PARA VER E OUVIR
Pedro Altério e Bruno Piazza no Projeto Casulo
O duo de Pedro Altério e Bruno Piazza traz um projeto baseado no universo popular, mas com arranjos e formações eruditas. As primeiras apresentações do duo em São Paulo tiveram lotação esgotada. Intimista e pessoal, o show desenvolve um espetáculo jovem e dinâmico celebrando uma nova tradição da Música Popular Brasileira.
O espetáculo caracteriza-se como uma celebração do passado com o presente, da raiz e com os frutos, trazendo para o palco um pouco da riqueza proveniente do casamento entre o erudito com o popular.
Participações especiais: Luiza Possi, Bárbara Rodrix e Rafael Altério.
TOM JAZZ
Dia 12/09 (AMANHÃ) às 22hs
Av. Angélica, 2.331
Higienópolis – São Paulo
Tel.: (11) 3255-0084
Couvert – R$ 30
Vendas – Ingresso Rápido
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Até a próxima, povo!
Ricco Nunes, paulistano, solteiro convicto (até que me provem o contrário), publicitário, designer gráfico e músico profissional, apaixonado por arte, culinária, estilo, livros com temas densos e pessoas com bom senso de humor. Detesto cantores de churrascaria, pegar metrô as 18h e acordar antes das 10h30. Tudo o que escrevo é baseado em fatos reais analisados sob o meu ponto de vista. Comentem, critiquem, elogiem e botem a borboleta para fora do casulo!