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A grama do vizinho é Photoshop

26 de novembro de 2014
Postado por Dario

Texto por André Portugal

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Alguém nesse exato momento está acompanhando a sua vida. Não estou citando nenhuma teoria da conspiração e você sabe disso. Acho que somos a espécie mais curiosa da terra, é daí que vem parte do conhecimento humano acumulado desde que aquele macaco jogou aquele osso pra cima em “2001, Uma odisseia no espaço”.

Tudo o que observamos, nós rotulamos e categorizamos, nosso cérebro está sempre separando, julgando e hierarquizando, coisas, pessoas e, claro, nós mesmos.

Você pode estar numa ótima fase, pode ter recebido um aumento ou ter ganhado dois quilos de massa magra, pode ter perdido o emprego, ter levado um fora, mas, comparativamente, haverá sempre alguém melhor ou pior que você aos seus olhos, num inimaginável número de categorias. Ninguém escapa dos padrões oficiais e sociais de beleza, amor e sucesso. Pode parecer que não, mas isso tem um peso danado sobre nossa noção de felicidade, olhar para o outro, esperando sentir-se bem ou sentir-se mal não é nada maneiro.

Curtindo a vida (dos outros) adoidado

As redes sociais potencializaram tudo que as relações entre as pessoas proporcionam, com isso, não poderia ser diferente, comparações desproporcionais baseadas na vida virtual das pessoas é o mesmo que assistir a um filme “baseado em fatos reais” com os cortes de um diretor nada imparcial, afinal, lá, somos todos campeões, vencedores e temos fiador, somos um quadro de Picasso com todos os nossos melhores ângulos virados para quem estiver olhando.

Embora saibamos que todo mundo tem problemas, são as notícias mais curtidas que continuam tendo mais chances de serem mostradas e isso acaba influenciando a nossa percepção de alguma forma. Bem, não é aconselhável dar muita moral a uma ferramenta em que as pessoas conseguiram transformar “força, foco e fé” em coisa de academia né? É preciso filtrar com inteligência.

Fora da curva

Não estou dizendo que pessoas têm as mesmas facilidades que as outras. Não têm mesmo! Quando a gente nasce, recebe 7 cartas pra jogar, uns recebem Reis e Rainhas, outros não, as vezes falta uma e é isso mesmo, está feito! Não adianta reclamar. Perdemos muita energia procurando equilíbrio e justiça nas coisas que simplesmente não significam, a vida não é proporcional, ninguém tem o mesmo passado.

Aceitar algo que não pode ser mudado e mudar o que pode é o primeiro degrau da evolução pessoal.

Mas isso deve ser feito de frente para o espelho, que o lado de fora da janela sirva apenas para nos dar algumas ideias novas, como uma inspiração, filósofos inspiram pintores, que inspiram músicos, que inspiram outros, cada um faz sua arte e fica tudo certo. A ideia não é se isolar das influências, isso nem é possível, mas entender que aquela camiseta P não cabe em você já é um começo, entender que você não precisa ter um álbum público com fotos de Paris ou Manhattan, também. Só se quiser.

Tomar responsabilidade pelas nossas vidas, aprender a olhar de outro ângulo, compreender o que realmente significa ser único, para o bem e para o mal, evitando copiar.

Vivemos num mundo xerox, tentando ter a aparência de alguém.

Tratamos de vestir esses uniformes para pertencer aos grupos que queremos, compramos a felicidade das outras pessoas em 12 vezes no cartão, só pra, muitas vezes, alimentar uma euforia passageira em nós e em quem a vende.

Parar de sonhar os sonhos dos outros e trabalhar menos com conquistas já prontas pode ser realmente difícil – isso deve ter muito a ver com o pesadelo humano de não ser aceito, e aposto que deve ser assim desde o tempo das cavernas – mas tenho escutado muito por aí que um caminho mais sob medida é um caminho bem mais satisfatório, só dá pra saber se a gente tentar, sem esquecer, é claro, de tomar nota de todos os nossos sucessos.

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