A gente quer comida, diversão e likes
O que te deixa socialmente feliz?
Desde o tempo de escola, antes mesmo de começar a assistir “Malhação”, aprendemos (muito errado) que o sucesso vem da aprovação dos outros. Não importa quantos livros de autoajuda lemos até a fase adulta, ou quantas vezes fomos perturbar o analista com pontos percentuais para mais ou para menos, a opinião das pessoas que estão em volta está sempre nos influenciando.
Embora seja muito mais encorajado hoje em dia, o narcisismo não nasceu ontem, óbvio, mas existem duas coisas relativamente novas dando uma atual cara à prática.
Uma é a facilidade de autopromoção, a rapidez de como podemos expor nossas conquistas, qualidades ou nosso vídeo no forró gospel para um grande número de pessoas. A outra é a quantificação da resposta, a possibilidade de contar o feedback em números. Basta um clique para você saber que algo seu está sendo “gostado” por alguém de algum lugar nesse mundão de meu Deus.
Talvez muita gente não tenha se dado conta do quanto faz parte dessa realidade. No Instagram, por exemplo, tirando meia dúzia de amigos e uma tia que usa o aplicativo só pra guardar as fotos, o restante está ali mesmo é pra interagir e, sobretudo, colecionar likes, expondo detalhes da vida em troca dessas moedas virtuais de aprovação pública – nesse caso num formato bem fofinho de coração que não foi pensado à toa.
Estar 200 likes atraente numa foto é objetivar o subjetivo. E cara, isso é muito louco!
Os comportamentos derivados disso acabam sendo dos mais diversos:
- Tem o usuário sucesso, que mostra pra todo mundo como (ui!) ele é rico e exclusivo.
- O usuário sexy, caras mostrando o sovaco/meninas mostrando que têm peitinhos.
- Pseudo artista usa um filtro pra cada pôr do sol (eu sou muito esse).
- Já o “usuário comida” está mais raro, não tenho visto mais pratos na minha timeline faz um tempo, acho que foi o mais julgado pela mídia e desapareceu.
- E os elevadores, que agora sabemos bem da sua existência por todo o Brasil, vejo muitas fotos dentro deles por aí.
A zoeira é irresistível, porque ser humano que é ser humano está sempre se achando melhor que os outros. E mesmo os que não usam espelho só pra tirar selfie, têm uma certa dificuldade pra se olhar nele. Antes dos nossos discursos inflamados contra o egocentrismo contemporâneo, vamos dar uma olhadinha no nosso?
Quem decide se existe exagero nas fotos do outro? Você? Eu? Isso não passa no Globo Repórter.
Há muito que se discutir sobre os limites da necessidade de autoafirmação e existe mesmo um monte de críticas fáceis sobre esse tema. Difícil é alguém que não tenha telhado de vidro pra falar sinceramente sobre isso sem esbarrar na hipocrisia ou no conservadorismo medíocre que a galera adora.
Cabe a cada um analisar onde a brincadeira saudável acaba e onde começa o vício patológico em ser adorado diariamente, porque tirando o meu pai, todos queremos vestir uma roupa legal e parecer bem na fita. O problema é quando usamos essa quantificação de amor de mentira pra pagar o aluguel do nosso amor próprio – aí não rola! O resultado é a busca por números cada vez mais altos.
Lembre-se: barriga tanquinho é sua e ninguém tem nada a ver com isso, mas é importante se ligar que esses comportamentos são calorias vazias, saborosas, mas que não servem como prato principal para a autoestima.
Mais importante ainda, ensinar isso aos seus irmãos, sobrinhos e afilhados. Os responsáveis por eles podem não entender muito bem do que se trata e os pequenos estão lidando com isso com a mente muito menos estruturada socialmente que a nossa que, em tese, é de gente grande.
Canadian Street Artist