Ah, as voltas que o mundo dá… A extrema-direita brasileira está nesse exato momento rebolando para defender algo que, até ontem, era demonizado por eles mesmos: a Lei Rouanet – tecnicamente é a Lei do Audiovisual, mas nesse caso isso é um detalhe.
Olavo de Carvalho, ‘guru’ do bolsonarismo, parece enfim ter entendido o conceito das leis de incentivo a cultura:
Para explicar melhor a treta toda…
Josias Teófilo, cineasta bolsonarista e aluno do auto-proclamado “filósofo” Olavo de Carvalho, produziu um filme sobre o que ele chama de “revolução conservadora”, ocorrida no Brasil nos últimos anos. Muito que bem; mas ai vem a pergunta:
Onde o cineasta foi buscar recursos para fazer seu projeto acontecer?
Pela Lei de Incentivo à Atividade Audiovisual. Tam-damm! ?
Incentivo este que é aprovado pela Agência Nacional do Cinema (Ancine) – a mesma rechaçada por uma parcela da sociedade durante anos e que, segundo o presidente Jair Bolsonaro, é uma “desgraça“.
E aà cabe outra pergunta:
Do ponto de vista da captação, a Lei Rouanet funciona de maneira semelhante a Lei do Audiovisual – o resumo feito por Olavo explica bem; só que para além do cinema, a Lei Rouanet também contempla outras áreas da cultura, como música e teatro, por exemplo (para entender direitinho como funciona a Lei ‘mais odiada do Brasil’, basta clicar aqui – vale a pena!).
Por isso a surpresa de todos: a extrema-direita começou a apoiar com unhas e dentes a famigerada lei de incentivo a cultura que tanto criticaram.
Ao que parece, como um “passe de mágica”, a lei simplesmente deixou de ser mamata (nunca foi!), passando a ser defendida pelos mesmos personagens que a atacavam – claro, tudo isso para apoiar a captação de verbas para a produção do longa “Nem Tudo se Desfaz”, filme de Teófilo. Que aliás, nada contra.
E aqui estamos, de novo, concordando com o Felipe Neto:
Pois é. Parece que um atrito entre as visões do presidente e sua legião de bolsonaristas fez com que, enfim, a galera entendesse como a Lei Rouanet funciona de verdade. Teófilo inclusive já deu declarações sobre falas de Bolsonaro sobre extinguir a Ancine:
“Se Bolsonaro acabar com a Ancine, será o dilúvio. Vai acabar com o cinema brasileiro, inclusive com os filmes evangélicos de que ele tanto gosta. Não vai poder ter filme nenhum“, afirmou o cineasta em entrevista ao O Globo.
O filme “Nem Tudo se Desfaz” recebeu autorização da Ancine para captar pouco mais de meio milhão de reais via lei de incentivo a cultura (no caso, Lei do Audiovisual). Vale lembrar que o novo teto de captação estabelecido pelo atual governo é de R$1 milhão por projeto (antes o valor máximo era de R$60 milhões).