O que muda com a chegada do ano novo?
Primeiro quero dizer que o ano passou tão rápido que tirou minha virgindade, passou no mercadinho da esquina, comprou cola de secagem rápida e colou minha virgindade de volta no lugar.
E eu nem senti.
Não que a chegada do ano novo vá mudar alguma merda: é tudo psicológico. Nada de especial vai acontecer nessa data que não possa acontecer em qualquer outra, em qualquer dia, qualquer horário.
Só que em vez de olhar essa chance-mágica-pós-réveillon com ceticismo pessimista fale “ceticismo pessismista” em voz alta várias vezes, você vai enlouquecer, aproveito a onda de felicidade geral para me encher de esperança.
Ao menos um pouquinho.
Esse ano foi profundamente transformador. Dialoguei um bocado comigo mesmo, aprendi a respeitar minha vontade de dizer “não” e mais três coisas que já considero essenciais para não enlouquecer em todos os próximos anos de minha existência nesse planeta de doidos — e acho que só de pensar que ainda não estou maluco, acho que já estou maluco(!).
1. Menos orgulho e mais diálogo clareou minha visão de que cada pessoa é realmente-fatalmente-absurdamente única e que não entendo tudo sobre todo mundo. Dentro disso, apreciei a virtude da paciência, sabe? Da empatia. De entender que algumas pessoas não mudarão e que dar murro em ponta de faca criando expectativas fadadas a desmoronar é autossabotagem.
2. Quando parei de temer as consequências da honestidade, curti com orgasmos múltiplos a leveza que dizer a verdade estimula. Não tem coisa melhor do que não precisar inventar desculpas para não ir à casa de alguém dizendo, naturalmente: “não estou no disposto”. Franqueza não precisa ser acompanhada de grosseria, então não me entenda mal. E nem toda verdade precisa ser dita — a não ser que seja para mim mesmo.
3. Domar minha necessidade de aprovação e, ao menos, aceitar como meu corpo é (ou como está) me torna um ser humano mais tranquilo. Aproveitar a praia sem camisa, podendo respirar sem complexos de inferioridade, é assustadoramente mais divertido do que morrer de calor dentro da regata ou de precisar nadar com um monte de pano puxando o corpo na correnteza.
Não me pressionar a malhar para ter os músculos perfeitos no verão, ou não me odiar por não ter feito as sobrancelhas há semanas, faz com que eu aproveite como pareço para mim e o que posso me tornar a partir da minha vontade, não do senso comum.
E um mantra recorrente na minha mente, a lição de todas as lições, é não me arrepender dos meus erros. Não sou definido por quem fui e não sou o que serei. Eu sou minhas atitudes agora, caindo e levantando como qualquer um, pois erros são ótimos professores. A eficácia do aprendizado depende do aluno.
Tento não depender de gatilhos externos para mudar o que me incomoda em minha realidade, mas acho saudável permitir que a alegria de outras pessoas numa das festas mais divertidas do ano me ajude a sorrir um pouco mais e acreditar, numa ilusão gostosa, que depois da meia-noite tudo será diferente.
Não sei quanto ao mundo, mas eu quero ser diferente.
Sempre para melhor. Sempre para mim. ♥