2014, a conta, por favor
– Um brinde a mais um ano zuado
Dezembro!
Engarrafamento, péssimos serviços e muita luz de led para todos!
Taí um mês que possui obrigações sociais muito fortes. Correria pra ir ao shopping comprar presentes e cartões com frases prontas. Afinal, precisamos dizer alguma coisa que a gente não sabe exatamente o que é, mas que tenha a ver com felicidade, sucesso e Deus pra todo mundo! Tudo isso até dia 25.
Nascemos num mundo cheio de tradições.
Algumas coisas mudam, mas outras continuam aí, passando como um rio largo ditando em que direção seguir. O fim do ano é assim, cheio dessas coisas.
Eu e você sabemos que toda aquela magia das festas de fim de ano está exageradamente capitalizada. Se pensarmos nos anos como grandes estradas, podemos imaginar as datas comemorativas dispostas ao longo delas como as cancelas de pedágio. As obrigações financeiras são apenas uma das formas de pagamento.
O primeiro imposto da temporada é a troca de presentes.
O mundo ocidental curte muito trocá-los só por trocar. A prova disso é o tal “amigo-oculto” (biscoito), ou “amigo-secreto” (bolacha) que participamos no trabalho. Eu não sei por que diabos gastamos 60 reais pra ganhar um par de havaianas. Presente é (ou deveria ser) alguma coisa que a gente dá porque quer, não por obrigação; existem brincadeiras bem menos coercitivas. Junta a galera, brinca de Imagem e Ação e põe uma cesta com fubá de prêmio que vai ser mais divertido.
A ceia zumbi.
O Natal possui exigências de cunho familiar, com a valorização de princípios humanos e religiosos. É muito bom quando isso é feito de verdade, o que não é fácil de acontecer. Quando se é criança, tudo é uma festa, seu mundo é sua família e quase tudo que você tem de referência está ali.
Aí atingimos a idade adulta, as coisas mudam e voltar ao berço muitas vezes é estar entre estranhos conhecidos.
Os mais velhos reclamam e os mais novos ficam na internet em 9 entre cada 10 lares brasileiros. É uma pena que não saibamos lidar com essa data; ela tá aí todo ano e a única coisa legal não deveria ser “ganhar presentes” e “comer como um bando de esfomeado”.
Família contribui, cara. Nos transforma em adultos. Merece mais do que cartões bestas e meias.
Merece a gente! Minha avó tem 90 anos. Ela me disse uma vez que eu era o neto que ela mais gostava de conversar porque eu escutava de verdade o que ela dizia, mesmo quando ela repetia tudo pela milésima vez. Aposto que ela prefere isso a um hidratante qualquer pro cotovelo. E eu também.
Feliz ano de novo.
Passado o período das compras, é hora de gastar dinheiro em festas, cortar o pé no caco de vidro, usar branco, fazer listas e simpatias. O encargo agora é diferente, é ser feliz! Mas não precisa gastar seu 13º pra se ter prosperidade.
Aliás, essa é a palavra mais celebrada, e não a tal paz.
O requinte e a ostentação das festas da virada estão aí pra gente se dar conta – sem hipocrisia, tem mais disso por aí do que fogos de artifício.
Pra sair dessa armadilha, escolha os amigos que ama e que quer estar junto em 2015, seu novo amor pra dar um beijão apaixonado na virada (cheio daquelas promessas silenciosas que a gente jura que estão sendo feitas enquanto olhamos nos olhos) ou fique em casa dormindo. Só não deixe que escolham esse momento por você.
Existe uma coisa que eu gosto muito: o clima de renovação e reinvenção pessoal.
O ano novo não existe, é só uma contagem de tempo. Mas a sensação do fim de um ciclo e início de outro é uma cafeína pra alma. Eu sempre dou um sorrisinho quando eu olho pro cara que eu era e pro cara que eu sou, faço minhas metas, repenso a vida.
Chega no espelho, dá uma boa olhada, decida que ser loira pode ser legal, ou quem sabe usar barba? Ler sobre arte, iniciar um projeto de estudo, cuidar de quem você vai ser em 2016, 2017…
O presente mais bonito que ganhamos da nossa geração é estar do lado de cá de uma série de conquistas sociais. Temos mais e mais possibilidades de tentar ser feliz de uma forma original, já que a cada dia caminhamos em direção à nossa própria vontade.
É hora de deixar de agir mecanicamente e rever certas regras.
Todo ano é igual para que possamos ser diferentes. E todo o potencial que existe nessa bolinha azul que chamamos de casa está na nossa capacidade de inspirar e de sermos inspirados.
Que o cara da chaminé te traga alguma coisa além de pavê nesse Natal.
Até ano que vem.